Sumário
A UNIVALE foi o palco do 1º Simpósio sobre Transtorno do Espectro do Autismo de Governador Valadares (TEA-GV) na manhã de sábado, com especialistas de renome nacional discutindo diversos aspectos do neurodesenvolvimento atípico, entre eles a necessidade de um diagnóstico precoce como fator que pode melhorar a qualidade de vida de crianças autistas. O auditório do Centro Cultural Hermírio Gomes da Silva, o Hermirão, ficou lotado de profissionais da saúde e da educação, além de mãe e pais de autistas, que acompanharam as palestras.
O Simpósio TEA-GV foi realizado pela Lotus Medicina e Saúde e pela UNIVALE, com apoio de vários parceiros. Presente ao encontro, a reitora da universidade, professora Lissandra Lopes Coelho Rocha falou do compromisso da instituição com a empatia, a diversidade e construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. “Somos uma instituição comunitária e a inclusão faz parte da nossa missão. Receber o Simpósio e discutir esse assunto é fundamental para nós, o que a gente deseja é que toda a comunidade e todos os profissionais sejam capazes de lidar com essa realidade. É fundamental discutir, conhecer o assunto e estarmos aptos a lidar com essa realidade”, disse a reitora.
Fundadora da Lotus e uma das palestrantes do TEA-GV, a pediatra Rinara Grossi, explica que o diagnóstico precoce do autismo pode contribuir para pacientes alcançarem plenamente seu potencial, evitando sequelas para o resto da vida. “É importante conscientizar, para que cada vez mais pessoas saibam sobre o espectro, para que possam intervir e diagnosticar mais precocemente, e que as crianças evoluam de uma maneira sem os sofrimentos que às vezes o espectro traz para o paciente, que às vezes não entende que ele é diferente dos demais. O neurodesenvolvimento é diferente, então é preciso fazer alguns ajustes. A gente não fala de cura de autismo, mas fala de qualidade de vida e diminuir o sofrimento”, considera pediatra.
As palestras do TEA-GV trataram, entre diversos temas, de regulação emocional, desenvolvimento, as diferentes formas que o autismo se manifesta em meninos e em meninas, e a genética do autismo. Pediatra, mestrando em Neurodesenvolvimento e autor de livros sobre autismo, Thiago Castro falou dos fatores genéticos e ambientais que influenciam a manifestação do TEA.
O aumento no número de diagnósticos, pondera o médico, não significa que o autismo tenha surgido recentemente. O que há hoje, ele explica, é um número maior de informações, sendo documentadas em maior quantidade e por pessoas mais capacitadas. “O autismo sempre existiu. Não havia diagnóstico porque não havia critérios. E muito provavelmente os pacientes que recebiam o diagnóstico eram os sindrômicos, de maior comprometimento”, explicou Thiago, destacando ainda que o primeiro documento a usar o termo autismo tem cerca de 120 anos.
Além da necessidade do diagnóstico precoce em crianças, Thiago Castro considera que, em adultos, a identificação do autismo pode ser importante para o autoconhecimento do paciente.
“Ter uma criança autista não é a mesma coisa que ter um pai ou mãe autista. Os genes podem ser herdados, ou pode ter um fator novo, um gene novo envolvido neste processo. Muito provavelmente, se o pai ou a mãe são autistas, e não receberam o diagnóstico, isso se trata de um autismo de alto funcionamento. A pessoa está inserida no mercado de trabalho, se casou e teve filhos. Descobrir um diagnóstico na vida adulta é muito mais para responder questões que essas pessoas sempre vivenciaram, como ‘por que eu sou assim?’, ‘por que é mais difícil para mim?’, ‘por que tenho que passar por isso mais uma vez?’ ou ‘por que isso me faz tão mal?’”, afirmou.
Na palestra que abriu o Simpósio TEA-GV, a neuropsicóloga Nathalia Heringer falou sobre as estratégias para que pacientes com TEA regulem a intensidade e duração das emoções. Ela defende que esse conhecimento precisa alcançar pais e escolas onde estudam autistas, para que o atendimento adequado diminua o impacto do transtorno. “A população autista tem quatro vezes mais de chances de desenvolver dificuldades na regulação emocional, e isso envolve mais hospitalização psiquiátrica no futuro, uso de serviços de emergência e contato com a polícia. Isso é no futuro, mas é na infância que a gente trabalha preventivamente a regulação emocional”, declarou Nathalia.
Entre o público do TEA-GV, estavam professores de diversos cursos da UNIVALE. Docente do curso de Medicina e aluno do mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT), o pediatra Darlan Correa espera que a realização do Simpósio ajude a aumentar a circulação de informações sobre o autismo.
“Saber sobre o autismo contribui para o diagnóstico de pacientes, mas, mais que isso, para a forma com que profissionais atuam com autistas e familiares. É importante entrar nesse mundo e nessa realidade, e ter empatia por esses pacientes e essas mães. Esse assunto ainda é pouco discutido, e que bom que a gente tem um Simpósio deste tamanho e com esta dimensão e importância na nossa cidade. É uma alegria ter esse tipo de evento em nossa cidade, com um público tão diverso de profissionais e pais. Isso já é fantástico por si só. Mas, acima de tudo, a gente tem que falar muito de autismo, porque isso provoca empatia e modifica a visão que a sociedade e muitos profissionais de saúde têm”, avaliou Darlan.
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