Sumário
O Brasil é um país onde muitas culturas se misturam — nossa história é feita de uma coletânea de memórias de pessoas de diferentes lugares. Parte dessa narrativa especial é a chegada dos chineses ao Brasil, que trouxe consigo um grande peso cultural para o desenvolvimento do nosso país e da população como um todo. O que era para ser apenas uma forma alternativa de trabalho em lavouras, transformou-se em um legado para o crescimento econômico do país.
Celebrado no dia 15 de agosto, O Dia Nacional da Imigração Chinesa é uma homenagem ao primeiro navio com chineses a aportar em terras brasileiras, o vapor "Kasato Maru", que chegou ao Porto de Santos em 15 de agosto de 1908. Esse navio trouxe mais de 700 imigrantes japoneses, mas também tinha a bordo um pequeno grupo de chineses. Embora seja mais conhecido pela chegada dos japoneses, esse evento também marcou o início de uma nova fase na imigração chinesa para o Brasil.
Para enriquecer as celebrações desse dia com conhecimento e cultura, a UNIVALE convidou o professor doutor Franco Dani a compartilhar um pouco mais sobre o tema de sua tese de doutorado, que aborda a imigração chinesa no Brasil.
Para começar, perguntamos sobre a motivação que o levou a realizar essa pesquisa e a história por trás da escolha do tema. Franco compartilhou que durante um estudo de campo no Mercado Municipal, realizado juntamente com sua turma de doutorado, a professora Carmen Rial percebeu a presença significativa de estabelecimentos comerciais chineses na área. Esse acontecimento despertou o interesse pelo tema.
“Durante a discussão com a professora Carmen, identificamos uma oportunidade valiosa para abordar a falta de produção científica que explorasse ou analisasse a imigração chinesa. Percebemos a necessidade de preencher essa lacuna, abordando especificamente a imigração chinesa em Governador Valadares” , comenta o professor.
A partir disso, Franco deu continuidade a entrevista apresentando o conhecimento adquirido ao longo de sua pesquisa acerca da sociedade chinesa dentro de Governador Valadares e no Brasil como um todo. Questionamos a ele sobre o cenário global atual, e o reflexo da imigração chinesa no Brasil nas relações entre os dois países.
“No contexto das relações bilaterais e considerando o cenário global, é interessante observar os reflexos da imigração chinesa no Brasil. Atualmente, podemos notar uma política de incentivo à produção chinesa e investimentos no mercado brasileiro, especialmente em setores como a indústria automobilística e tecnológica”, explica.
Para complementar a fala, ele aborda o assunto de sua área de formação: “Na área de comunicação, por exemplo, o Grupo Bandeirantes em São Paulo estabeleceu uma parceria com o principal canal chinês, a CCTV. Isso significa que parte da programação da Bandeirantes é produzida para o público chinês, enquanto também recebem parte da programação da CCTV. Essa colaboração se traduz em um intercâmbio bilateral, onde um canal no Brasil cria conteúdo sobre a China e vice-versa”.
Continuamos a entrevista abordando a importância da sociedade chinesa na cultura do Brasil e de Governador Valadares, e como a influência dos ancestrais perpetuam nos dias atuais dentro do comércio local. Franco conta sobre sua experiência entrevistando uma brasileira que se casou com um imigrante chinês.
“Ele havia vivido no Espírito Santo, mas veio para Valadares ao saber sobre a indústria madeireira. Ele conheceu sua futura esposa aqui e após o casamento, trouxe muitos itens da China para decorar a casa deles. Ele tinha uma rede de contatos em São Paulo, onde tinha parentes, e essas conexões permitiram que ele adquirisse peças chinesas autênticas que adornam a casa até hoje”.
“Hoje, quando observamos a influência chinesa no Brasil, podemos identificá-la em várias áreas, como a gastronomia. Muitos pratos da cultura chinesa foram incorporados à culinária brasileira. Além disso, elementos culturais como a língua, as tradições religiosas, as práticas artísticas, a caligrafia, a pintura e até a medicina chinesa desempenham um papel significativo”, complementa o pesquisador.
Ele finaliza a resposta falando sobre a língua local: “Um exemplo interessante é a presença do mandarim, a língua mais falada na China, que agora é ensinada em diversas escolas de idiomas, inclusive em Valadares. Atualmente, o mandarim supera até o inglês em número de falantes no mundo, considerando a população global e a diáspora chinesa”.
Para concluir a entrevista, também questionamos quais aspectos relativos à imigração chinesa no Brasil devem ser ainda mais explorados e investigados, visando aprofundar nosso entendimento sobre essa comunidade que contribui tão significativamente para o nosso país.
“Primeiramente, a integração econômica é um aspecto que merece atenção. Explorar como os imigrantes chineses contribuem para a economia do país e como suas atividades comerciais se relacionam com a sociedade brasileira pode fornecer insights valiosos”, começa Franco.
Ele complementa trazendo mais ideias de pesquisas: “Além disso, a análise da influência cultural contemporânea é um tema relevante. Explorar como a cultura chinesa e a identidade se manifestam nas gerações atuais pode revelar a evolução dessa herança cultural ao longo do tempo”.
“Por fim, os desafios atuais enfrentados pelas comunidades chinesas no Brasil são um ponto crucial a ser considerado. A análise das oportunidades e obstáculos que eles enfrentam diante das mudanças políticas, econômicas e sociais, bem como a manifestação de discursos xenofóbicos, é uma questão de grande relevância”, finaliza Franco, trazendo uma temática importante e de muita notoriedade.
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