Em uma iniciativa inovadora, a disciplina de Juventude, Vulnerabilidade, Violência e Território, do programa de mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT), da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), realizou uma aula virtual que trouxe à tona discussões fundamentais sobre adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa.
A aula, organizada em parceria com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Governador Valadares, contou com a participação especial de dois profissionais da equipe, o psicólogo Kevin Júlio Barbosa dos Santos e a pedagoga Jessika Rocha de Moura, e com a presença de um jovem que já vivenciou o Sistema Socioeducativo, e proporcionou um depoimento real de sua experiência.
Sobre a importância da criação de vínculos com os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, a pedagoga Jessika ressaltou a necessidade de mergulhar na cultura dos jovens em questão, a fim de provocar o interesse dos mesmos para o cumprimento satisfatório das medidas. Ela também relatou sobre as práticas exitosas que acontecem em grupos de adolescentes, aplicando o “círculo de construção da paz”, um método da justiça restaurativa. O círculo é considerado um espaço seguro e horizontal de conversa, onde esses jovens podem expressar-se de maneira contextualizada com seus pares.
“Foi muito importante para minha vida, para tomar decisões, porque foi um acolhimento importante. A Jessika me dava conselhos, parecia a minha mãe. Eram experiências [assim] que me ajudaram a saber que não só eu que sou culpado, que todo mundo carrega culpa, que não é culpa de ninguém. E as rodas de conversa coletiva eram muito importantes. Pelo menos para mim foi importante, porque conheci outras realidades. Eu vivia numa numa fase não muito boa, já meio da rua. Conhecer outras pessoas foi importante, [pessoas] que viviam quase a mesma realidade que eu. Abriu meu leque de conhecimento”.
Esse depoimento foi feito pelo jovem que cumpriu sua medida socioeducativa no CREAS/GV. A fala demonstra a importância da metodologia utilizada para seu acompanhamento, e a diferença que a medida fez em sua vida.
Pesquisa e medida socioeducativa
Este momento também contou com a participação de Andrea Cecilia Moreno, uma das pesquisadoras do projeto “Relação com o saber e a escola: estudos com jovens em situação de conflito escolar na capital e interior mineiro”, realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Ela explicou os objetivos e a importância da pesquisa em andamento, desenvolvida no CREAS de GV e em Belo Horizonte. A mediação dessa mesa foi feita por Gisela Costa, mestranda do GIT, onde é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e ainda assistente social na Vara da Infância e Juventude de Governador Valadares.
A abordagem interdisciplinar sobre a medida socioeducativa permitiu uma análise complexa e humanizada sobre os desafios enfrentados por adolescentes em situação de vulnerabilidade social e das equipes que atuam junto a esse público. Para estudantes do mestrado, a experiência representou uma oportunidade singular de compreender, além dos conceitos, as nuances concretas da medida socioeducativa, das políticas socioeducativas e os caminhos multifacetados da ressocialização juvenil. O estudo evidenciou que a construção de políticas públicas efetivas não exige apenas conhecimento técnico, mas, sobretudo, sensibilidade e compromisso ético com a transformação social.
Mais do que um evento pontual, a aula se configurou como um marco na formação de profissionais que possam se comprometer com abordagens humanizadas para a juventude em situação de vulnerabilidade. As professoras responsáveis pela disciplina, Maria Celeste Souza e Maria Terezinha Vilarino, além de Rosilene Maciel, que contribui com a disciplina como docente convidada, destacam a importância, para a cidade de Governador Valadares, da pesquisa com jovens que vivenciam a medida socioeducativa por estarem em situação conflitiva com a lei.