Sumário
Por: Natalia Lima Amaral
Relembrar, discutir sobre a mineração em Minas Gerais e denunciar a realidade que a região do Vale do Rio Doce enfrenta após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Esses foram os principais objetivos da programação do 7º Seminário Integrado do Rio Doce, que aconteceu nesta quinta (10/11) e sexta-feira (11/11) no Auditório A, do campus II da UNIVALE.
No mesmo ano que a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 27), relembrar o ocorrido no dia 5 de novembro de 2015 é de extrema relevância e pertinência para o campo da ciência e dos atingidos. Foram diversas mesas redondas, com professores mestres e doutores, de diversas universidades parceiras.
A UNIVALE pôde realizar mais uma edição do Seminário Integrado com a colaboração de instituições como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG-GV), a Comissão de Atingidos Território Governador Valadares, dentre outras.
Para Diego Jeangregório Martins Guimarães, professor do mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT), trazer uma discussão mais ampla sobre os impactos e as questões ambientais do estado é de extrema importância. “Nós temos unido esforços com diversas instituições acadêmicas, com o poder público e, principalmente, com a participação da comunidade, dos atingidos, para que juntos possamos pensar em soluções para a nossa região extremamente marcada pelo desastre”, enfatiza.
No primeiro dia de mesas redondas, dia 10 de novembro, o seminário integrado na parte da manhã abordou “Diretos e Conflitos nos Desastres”, contando com a participação das professoras Eunice Nodari (UFSC), Lissandra Lopes Coelho Rocha (UNIVALE), Luciana Tasse (UFJF/GV) e Tatiana Ribeiro de Souza (Ufop). Trabalhando com o conceito de desastre criado pela Samarco Mineração S/A, Vale S/A e BHP Billiton, uma característica importante frisada pelas acadêmicas é a realidade indivisível entre o ser humano e a natureza. Tatiana Ribeiro, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), comentou sobre o mito da neutralidade da ciência, mesmo em áreas consideradas como “exatas”, tendo como um exemplo as engenharias.
“Mesmo que tenha um projeto em vista, a engenharia não é uma ciência descolada de posicionamentos políticos. Não podemos desvincular uma decisão técnica de uma decisão política, além de diferenciar as medidas emergenciais em casos de desastres naturais e criados, como no caso da barragem de Fundão”, explica.
Na manhã da quinta-feira (10/11), durante o seminário integrado, também ocorreu o lançamento do livro “Desastres no rio Doce: olhares e percepções”, que reúne contos, poesias, crônicas e fotografias, organizado pelas professoras Lissandra Lopes Coelho Rocha, reitora da UNIVALE, e Adriana de Oliveira Leite Coelho, pró-reitora de graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão, regulamentado a partir do I Concurso Literário UNIVALE, em 2018.
Para a professora Adriana, a obra reúne relatos sobre o que foi vivenciado com o rompimento da barragem. “São sentimentos de preocupação, insegurança, medo e tristeza. Porque fomos atingidos em todos os aspectos, tanto materiais quanto emocionais. E tudo isso está descrito nesse livro”, comenta.
No período da noite, a mesa redonda “Desafios da mineração em Minas Gerais: reflexões do presente e perspectivas futuras” reuniu os professores Angelo Marcio Leite Denadai (UFJF/GV), Bruno Milanez (UFJF) e Claudio Bueno Guerra (Consultor Ambiental). Uma pesquisa apresentada na discussão durante o seminário integrado, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que a causa principal dos transtornos mentais que assombram os atingidos pela tragédia da Samarco tem relação com a perda do vínculo com a terra e com a comunidade, na qual depressão, estresse pós-traumático, comportamento suicida e transtornos de ansiedade generalizada tiveram um aumento significativo, sendo o último citado, de 32% dos casos.
Na manhã de sexta-feira (11/11), a mesa redonda “Dinâmicas Territoriais e Riscos: Aprendendo com a natureza” contou com a participação dos professores Ricardo Rozzi (University of North Texas. EUA), Iesmy Elisa (UNIVALE), Karen Strier (University Wisconsin-Madison. EUA), Haruf Salmen (UNIVALE) e Renata Campos (UNIVALE).
Karen trouxe um aspecto importante sobre uma espécie de macacos específica na Mata Atlântica, com uma parte localizada na bacia do rio Doce: a “Muriqui-do-norte”, que está criticamente ameaçada de extinção. São apenas 15 populações, que podem ser encontradas em cidades como Caratinga e na região sul da Bahia.
Na antiga Fazenda Montes Claros, em Caratinga, um fragmento de Mata Atlântica foi preservado por Feliciano Miguel Abdala, a quem a professora Karen teve a oportunidade de conhecer, enquanto estudante, em 1982. A região é um dos lugares em que o Muriqui-do-norte sobrevive até hoje e a pesquisadora pôde observar, na época, o que é possível fazer como uma pessoa só.
Para Karen, mesmo com notícias preocupantes sobre a preservação ambiental, ela se mantém confiante e otimista de que o projeto de restauração Feliciano Miguel Abdala possa gerar prósperos frutos. “A natureza e a biodiversidade, que estão sofrendo com os nossos impactos, precisam que a gente se una como um todo e passamos das discussões para agir e encontrar formas para que tudo melhore”, enfatiza.
Já na parte da noite, Maria Terezinha (Centro Agroecológico Tamanduá), Mônica Santos (Comissão de Atingidos de Mariana), Joelma Fernandes (Comissão de Atingidos de Governador Valadares), Mônica Sifuentes (Presidente do TRF-6), Carlos Bruno (Coordenador Força-Tarefa Rio Doce/MPF) e Lucimere Leão (Caritas Itabira) participaram da discussão “Os direitos dos atingidos após o fim da repactuação. E agora?”, em uma reunião virtual disponível no canal oficial da UNIVALE no YouTube.
A professora Eunice Nodari (UFSC) participou de todas as edições do Seminário Integrado, celebrando a união da UNIVALE e dos outros parceiros do evento. “Para nós, é muito bom estar de volta aqui. Participamos de todos os eventos, alguns de forma remota e agora presencial. Acho que essas parcerias entre uma universidade pública e uma universidade comunitária, que é o caso da UNIVALE, têm tudo para dar certo”, reforça.
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