O autismo é um transtorno que afeta a comunicação e o comportamento de cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil, segundo estimativas. Professora do curso de Psicologia da Univale e especialista em inclusão educacional e técnicas de avaliação neuropsicológica, Adelice Bicalho, alerta para a importância de um diagnóstico o mais rápido possível, para melhor desenvolvimento e adaptação do autista ao aprendizado.
“Hoje falamos em diagnóstico a tempo ou o mais rápido possível. Ou diagnóstico na infância mesmo. Não há diagnóstico precoce. Quanto antes se fizer, melhor. É importante para que alternativas de intervenção ocorram o mais cedo possível, para ajudar nos comportamentos adaptativos do cérebro e também no aprendizado de atividades de vida diária”, afirmou a professora, que também é psicóloga do serviço de inclusão no Espaço A3 da Univale, além de pedagoga e mestre em Educação.
Adelice acrescenta que a reabilitação pode ser mais demorada, caso comece na idade adulta da pessoa com autismo. “Quando o diagnóstico é feito mais tardio, precisa-se procurar um profissional habilitado para trabalhar com jovens e adultos neurodivergentes. O cuidado é procurar alguém que trabalhe com a idade de desenvolvimento específica”, enfatiza a professora.
Pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm um desenvolvimento neurológico fora do que é considerado padrão, por isso são consideradas neurodivergentes. “Em neuropsicologia, uma pessoa neurodivergente é aquela que apresenta o desenvolvimento neurológico fora dos padrões considerados normais para a sociedade. Ou seja, é um desenvolvimento atípico. O termo foi criado na década de 1990 e adotado pela comunidade autista de imediato. Mas hoje outros grupos também se valem deste termo, como os que possuem dislexia ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou TDAH”, explicou.
Embora o TEA venha sendo discutido com mais frequência na sociedade – e hoje existe até mesmo um dia internacional da conscientização sobre o autismo (2 de abril) – ainda há desinformação e preconceito em relação a autistas, inclusive de pais de crianças que se recusam a reconhecer o comportamento atípico, protelando o diagnóstico por um médico psiquiatra ou neurologista.
“Os pais precisam entender que filhos neurodivergentes terão suas peculiaridades. É preciso dar todas as oportunidades para ele se desenvolver, aproveitar as altas habilidades e investir nas potencialidades desses filhos. É preciso não ficar muito ansioso e entender que cada um tem seu tempo de amadurecimento. Investir na arte e no esporte é um bom caminho também”, recomenda a professora.
Conforme a Lei 12.764/2012, da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA, o autista é considerado pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais, e deve ter assegurado o acesso a serviços de saúde, atendimento multiprofissional, à educação, ao mercado de trabalho e à assistência social, entre outros itens.
Aluno do 9º período de Medicina na Univale e diagnosticado com TEA aos 19 anos, Vittor Guidoni Marianelli atualmente está com 22 anos. O diagnóstico de autismo, ele avalia, o permitiu conhecer melhor a si mesmo e as dificuldades de interação social – comportamentos como olhar nos olhos da pessoa com quem está conversando, ele menciona, precisaram ser aprendidos e estimulados.
“A minha vida não mudou nada. Eu continuo sendo o Vittor. Continuo sendo a mesma pessoa que eu era. A diferença é que agora eu sei um pouco mais sobre mim, sei minhas dificuldades e sei como lidar melhor com elas. Você ganha um autoconhecimento e se torna mais fácil lidar com suas dificuldades”, afirmou.
Ele admite que, ao saber do diagnóstico de autismo, a primeira reação foi sentir o receio de falar sobre o assunto com outras pessoas. Passado esse primeiro momento, ele se sentiu à vontade para abordar o TEA inclusive nas redes sociais – ele possui cerca de 234 mil seguidores no twitter, onde passou a ser conhecido como Vittinho do SUS após publicar uma selfie vestindo uma camisa com a inscrição “sim, eu faço Medicina. Mas, por favor, não me chame de doutor. Me chame de Vittinho do SUS”.
“Quando tive meu diagnóstico, fiquei muito tempo sem falar pra ninguém. Porque eu queria aprender um pouco mais sobre aquilo e sobre mim mesmo, antes de falar com outras pessoas. Sempre tem um receio de que as pessoas vão te tratar diferente, e eu não preciso ser tratado com piedade. Eu sei lidar com as minhas dificuldades. Quero educar os que não sabiam e reforçar a confiança de outras pessoas neurodivergentes. Senti que era necessário falar disso. Com o alcance que eu tinha, seria quase um crime eu não falar. Vejo uma necessidade moral de falar sobre essas coisas e educar as pessoas”, disse o estudante.
Ao se graduar, ele cogita atuar em áreas como psiquiatria ou neurologia, e sente vontade de trabalhar com saúde pública.
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