Em março do ano passado (2020), uma equipe de cinco cientistas conseguiu sequenciar o genoma do coronavírus no Brasil. O sequenciamento feito pelo grupo, formado exclusivamente por mulheres, foi o que possibilitou, por exemplo, a formulação das vacinas e o entendimento de suas mutações e rotas de transmissão. Além de possibilitar avanços no combate à doença, as pesquisadoras concluíram todo o processo de padronização, que geralmente pode durar semanas, em apenas 48h.
O contexto dessa descoberta, entretanto, é exceção no cenário científico. Ainda existem consequências da histórica exclusão da mulher de espaços que possibilitam crescimento, como a educação e a política. É raro ver uma grande quantidade de mulheres ocupando posições de destaque na ciência, principalmente uma equipe unicamente feminina envolvida em algo tão grande, como a demanda mundial, que é a pandemia da Covid-19.
Por todos os reflexos do passado, conversamos com a pedagoga e pesquisadora da Univale, Karla Nascimento de Almeida, para entender como impulsionar a presença feminina na ciência atual. Leia abaixo a análise feita por ela.
“Para falar sobre mulheres na ciência, precisamos considerar uma perspectiva histórica, ou seja, o lugar em que elas ocupavam na sociedade - principalmente ocidental, onde é predominante a figura masculina: o homem, branco, católico — em todas as esferas, assim como na ciência. Entretanto, para falar de ciência temos que repensar também alguns aspectos. Como a ciência moderna nasce das ciências da natureza, é comum que se tenha em mente a imagem de um cientista manipulando elementos em laboratório, mas o termo se estende para outras áreas, como as ciências humanas e as aplicadas, e em todas elas, hoje, nós temos uma presença feminina muito grande. Sobretudo a partir da década de 70, houve um avanço na forma da mulher se colocar, sob outras perspectivas de pensamento, que provocaram uma quebra de paradigmas, para que a mulher ocupasse qualquer lugar, porque ela tem condições para isso — muitas vezes só não lhe é dada a oportunidade. Mas no cenário atual, se olharmos, por exemplo, para a Univale, é possível ver a presença da mulher, tanto na gestão quanto nesses espaços da ciência — compreendendo a ciência também como produção de conhecimento. Ainda que esse conhecimento pareça não ser de aplicação imediata, pensando na educação, são inúmeras as variáveis que interferem no processo educativo. É um fenômeno complexo. A pedagogia acredita que a ciência deve estar a serviço da sociedade, independentemente de homens ou mulheres, e que na escola, na educação, todos precisam ter esse acesso garantido. O que é feito então, é o incentivo. As atividades literárias, contações de histórias, o incentivo à criação de ideias e o desenvolvimento da criatividade, são estratégias que ampliam o letramento das crianças, que é a capacidade de leitura de mundo, de contextos. Isso tudo colabora fundamentalmente para que elas cresçam com vontade de estudar, compreendendo a educação como uma potência transformadora da sua vida e da sociedade. Todos, meninos e meninas têm direito à educação, e têm condições de aprendizado em qualquer área. O fundamental é garantir condições de acesso, considerando a construção cultural, social, política e econômica, que atravessa nossa história, a permanência e o reconhecimento da mulher na ciência”.
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