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Desafios para a duplicação da BR-381 na região Leste de Minas Gerais

Desafios para a duplicação da BR-381 na região Leste de Minas Gerais

09 outubro, 2020

No dia 29 de setembro, o professor Aurélio Lamare Soares Murta, egresso do curso de Engenharia Civil da Univale, participou da live Desafios na Duplicação da BR-381, promovida pelo curso de Engenharia Civil e Ambiental, que pode ser vista no canal da Univale no YouTube. Dada a relevância e atualidade do tema, trouxemos um resumo elaborado pelo professor, destacando os principais pontos que foram abordados na transmissão. Confira!

Desafios para a duplicação da BR-381 na região Leste de Minas Gerais, por prof. Aurélio Lamare Soares Murta

Sem dúvida alguma a Rodovia BR-381 é um importante elo entre as regiões Sudeste e Nordeste do país, passando pelos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Essa rodovia permite que diversos municípios tenham acesso às capitais dos seus estados de forma direta ou indireta, garantindo, portanto, a integração dos mesmos aos grandes polos industriais e comerciais.

Quando se fala da BR-381, não se pode esquecer que a mesma também perpassa e permite a integração entre duas das maiores usinas siderúrgicas do país (Usiminas e CSN), além de permitir o acesso a rodovias de integração nacional, como a BR-101, BR-116 e BR-040, o que a torna uma rodovia essencial para o desenvolvimento e integração das diversas economias regionais do Brasil.

Ao longo do traçado da rodovia, diversas cidades conseguem escoar o resultado das suas diversas atividades produtivas, bem como abastecer os seus mercados consumidores com produtos advindos de outras regiões, ou mesmo de outros países.

No seu percurso, ainda nos deparamos com uma forte indústria metalmecânica, uma robusta cadeia de produtos siderúrgicos, e produção de papel e celulose que precisam ser escoados para outros parques industriais ou para os grandes portos nacionais, com objetivo de exportação para mercados internacionais.

No entanto, de forma contraditória, por muitos anos a rodovia não foi tratada com a devida importância e atenção que a mesma requer, sendo quase que abandonada sem as devidas manutenções e intervenções necessárias para adequação da sua capacidade em relação ao mercado atendido por ela. Foram anos de obras intermináveis e quase que completa falta de planejamento para a readequação das necessidades crescentes do seu entorno.

Especificamente, um trecho da Rodovia BR-381 merece destaque, devido à pujança do seu crescimento nas últimas décadas. A rota entre Belo Horizonte e a Cidade de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, permite a integração desse importante polo produtor do interior de Minas com a capital do estado e com outros pontos de escoamento de produção.

Nessa rota a rodovia passa pela região do Vale do Aço, que concentra boa parte da siderurgia do estado de Minas Gerais, além de celulose e papel, representadas pelas indústrias Usiminas, Acesita (Aperam South America) e Cenibra, além de outras indústrias de menor porte, mas de grande importância para a economia do estado e da região.

A evolução da economia da região do Vale do Rio Doce pode ser verificada pelo crescimento do PIB — Produto Interno Bruto, que entre os anos de 2000 e 2015 saltou de R$ 6,7 bilhões para R$ 30 bilhões, representando um aumento de quase 500% em 15 anos. Nesse mesmo período, o PIB per capita evoluiu de R$ 4,3 mil para R$ 17,5 mil, mantendo a proporção da evolução do PIB per capita nacional.

Ressalta-se que, se somados o PIB da região do Vale do Aço e da cidade de Governador Valadares, a representatividade econômica nesse trecho da rodovia seria de aproximadamente 70%, o que demanda grandes fluxos e altas taxas de utilização da BR-381 para o abastecimento e escoamento de produtos e serviços.

No entanto, apesar do representativo crescimento econômico, os investimentos na BR-381 não acompanharam a mesma proporção, negligenciando, assim, o aumento da necessidade de utilização da mesma, o que acabou gerando sérios problemas de insuficiência de infraestrutura, ineficiência operacional e aumento vertiginoso do número de acidentes, levando a rodovia a receber o título de “Rodovia da Morte”.

Diversas são as demandas por obras de readequação da infraestrutura da BR-381 para que a mesma se adéque às novas realidades econômicas e de movimentação de carga e passageiros no seu leito.

No passado recente, o Tribunal de Contas da União (TCU) realizou uma auditoria em alguns trechos da rota entre Belo Horizonte e Governador Valadares e constatou que em determinados locais o movimento de veículos era 13 vezes superior ao limite de segurança projetado para a rodovia, o que em parte explica o grande aumento do número de acidentes e os intermináveis congestionamentos.

Nesses mesmos trechos, foi constatado que o número de acidentes chegou a quase 1700 ocorrências entre 2009 e 2012, o que demonstra a premente necessidade de intervenções imediatas. Sabe-se que esta não é uma realidade apenas da BR-381, mais sim de boa parte das rodovias do país.

Segundo dados do Sistema Nacional de Viação (SNV), a malha rodoviária nacional é composta por 212 866 km de rodovias pavimentadas e 1.365.426 km de rodovias não pavimentadas, sendo que 61% da matriz de transporte de cargas e 95% da matriz de transporte de passageiros utilizam sistema rodoviário de transporte.

Essa forte concentração em um só sistema nos mostra que, no passado, governos apostaram na utilização prioritária do modo rodoviário em detrimento a outros, porém, se esquecendo de viabilizar a infraestrutura compatível com a demanda gerada.

Como resultado dessa baixa qualificação da infraestrutura rodoviária, o Fórum Econômico Mundial colocou o Brasil na 103º posição entre 137 países analisados, ficando atrás, inclusive, do Chile, Equador e Uruguai.

Ressalta-se também que nos últimos anos a frota de veículos vem crescendo mais de 100% a cada década, enquanto as rodovias federais pavimentadas cresceram cerca de 12% no mesmo período. Portanto, pode-se observar um descolamento entre estes dois fatores de crescimento, o que se traduz em diversos problemas de ordem técnica e operacional para as rodovias e para o fluxo.

Recentemente, as obras de readequação da BR-381 retornaram, e com grandes desafios, dentre os quais pode-se citar a necessidade de sua duplicação, que deverá impor uma série de ações desafiadores, tais como: a necessidade de muitas interferências, diversos processos de desapropriação, muitos entraves ambientais, remanejamento de serviços de concessionárias (gás, água, fibra óptica, linha férrea e outros), lentidão do tráfego durante as obras e outros diversos.

Entretanto, apesar dos grandes desafios, os benefícios serão incalculavelmente maiores, se observados os argumentos que foram aqui expostos. Não faz sentido que uma rodovia de grande importância para a economia da região Sudeste e, principalmente, para a economia da região do Vale do Rio Doce, permaneça com os mesmos problemas de décadas atrás.

Deste modo, é necessário que o poder público tome as providências necessárias para que as obras sigam adiante e sejam finalizadas em caráter urgente, obedecendo-se aos critérios técnicos de engenharia e com a devida qualidade que se espera de uma obra desta envergadura.

Currículo

Prof. Dr. Aurélio Lamare Soares Murta Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Engenharia de Transportes e Logística Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGAd Coordenador do MBA em Logística Empresarial e Gestão da Cadeia de Suprimentos – MBA LOGEMP UFF Universidade Federal Fluminense – UFF

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