“Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. Essas palavras entraram para a história do Brasil em 9 de janeiro de 1822, o “Dia do Fico”, quando o então príncipe regente Dom Pedro de Alcântara, da Casa Bragança, anunciou que permaneceria em território brasileiro, contrariando a vontade da corte portuguesa. O historiador e coordenador do mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT) da UNIVALE, professor Haruf Salmen Espindola, avalia que esse momento foi crucial para o processo que, oito meses depois, terminaria com a declaração de Independência do Brasil, em 7 de setembro do mesmo ano.
“Todas datas históricas, como essa data do Dia do Fico, são pontas de iceberg, que escondem por baixo uma quantidade de fatos e contextos que devem ser considerados”, afirmou o professor. À época, o Brasil já não era mais uma colônia: o território fazia parte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e o comércio com a Inglaterra ajudou a desenvolver a economia local.
Em Lisboa, a pressão era para que Pedro, herdeiro do trono, retornasse a Portugal, onde havia quem defendesse inclusive que o Reino do Brasil fosse rebaixado novamente ao status colonial. “A posição que prevalecia dentro das cortes era muito conservadora, muito focada nos interesses diretos de Portugal, e havia pressão para que o príncipe, herdeiro do trono e regente do Brasil, retornasse para Portugal. Ele [Pedro] acaba tomando a decisão de que não vai retornar e não vai acatar ordens. A consequência da permanência dele [após o Dia do Fico] é que aumentam as tensões entre o Reino do Brasil e o Reino de Portugal”, lembra Haruf.
O coordenador do mestrado da UNIVALE classifica Dom Pedro como um líder de enorme capacidade estratégica, política e militar. Após o Dia do Fico e no processo que levou à Independência, Haruf atribui ao príncipe herdeiro (e posteriormente Imperador do Brasil independente) o papel centralizador que impediu a fragmentação do território brasileiro em diversos países, a exemplo do que ocorreu com as colônias da Espanha no continente.
“Dom Pedro acaba declarando a independência, a separação. Vai haver resistência em várias províncias, mas ele faz várias alianças, inclusive com a Inglaterra, que era a nação hegemônica, e vai organizar forças para debelar resistências internas, assegurando a unidade e a manutenção da integridade do Reino do Brasil, evitando que ocorresse o que ocorreu na América Espanhola, que acabou se dividindo em vários países. Isso poderia ter ocorrido aqui também. Ao invés do Brasil ser como é hoje, poderiam ser vários países. Mas, graças a Dom Pedro, foi assegurada essa unidade em torno do poder centralizado que ele exercia no Rio de Janeiro, mantendo todas as províncias vinculadas a esse poder central. Isso foi fundamental, e o Dia do Fico marca essa opção de Dom Pedro por permanecer no Brasil”, explicou o historiador.
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