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Vista do campus II da Univale para o rio Doce e o Pico da Ibituruna

Dia do Rio Doce: “é preciso conhecer para preservar”

13 dezembro, 2022

O dia 13 de dezembro é o Dia do Rio Doce. Formado no encontro dos rios Carmo e Piranga, tem a foz em Regência, no município capixaba de Linhares. Em seus 850 quilômetros de extensão, abrange 228 municípios de Minas Gerais e Espírito Santo. Mas há algo a se comemorar nesta terça-feira, sete anos após o despejo de rejeitos causado pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana?

Coordenador do curso de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), o professor Hernani Santana afirma que o rio Doce é atualmente o rio mais monitorado em todo o país. Para ele, embora esse monitoramento seja importante, é preciso que se traduza em ações que beneficiem a população. E para isso, ele salienta, deve haver participação e diálogo com a comunidade, principalmente a população que usa esse rio de forma direta.

“São sete anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. De lá para cá, pode-se confirmar que o rio Doce é o rio mais monitorado do Brasil, hoje, devido a essa tragédia. E esse monitoramento, por si só, não é o suficiente. Existem desdobramentos que têm que ser acompanhados. Porque tem muito número, muito resultado, mas a grande reflexão é transformar esses resultados e esses números em comunicação. E levar essas informações a quem tem necessidade, principalmente a população ribeirinha”, afirmou o professor.

Em nota, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) destaca a importância do rio para atividades econômicas, geração de energia elétrica, além de garantir a renda de pescadores e pessoas criadas em suas margens. “Em 2022, nós do CBH-Doce estamos comemorando a data com muito trabalho. Nas regiões dos rios Piranga, Piracicaba, Santo Antônio e Caratinga iniciamos a execução do Rio Vivo. Dentro dessa iniciativa já estão sendo cercadas nascentes, fossas sépticas serão construídas e caixas secas também. Quando fazemos essas ações nos afluentes significa que teremos mais água no rio Doce, além de um manancial menos assoreado”, disse o presidente do CBH-Doce, Flamínio Guerra.

Vista do campus II da Univale para o rio Doce e o Pico da Ibituruna
Vista do campus II da Univale para o rio Doce e o Pico da Ibituruna

Relação dos Krenak com o rio Doce, ou “sagrado Watu”

Egresso do curso de Jornalismo da Univale, Douglas Krenak se encontra em Montreal, no Canadá, de onde participa da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade. A aldeia Krenak no município de Resplendor, assim como o campus II da Univale, é banhada pelas águas do rio Doce. Ou Watu, como o rio é chamado no idioma Krenak. “Para nós, do povo indígena Krenak, a gente se relaciona de uma forma que vai além da água. A gente chama o rio Doce de Watu, que significa o Grande Espírito, ou o Grande Pai, o Grande Protetor”, destaca. 

Douglas enfatiza que a relação dos Krenak com o rio vai além da subsistência, da caça e da pesca, e lamenta que, com a contaminação do rio, o povo Krenak esteja proibido de realizar seus antigos rituais nas águas do Doce. Ele espera que os indígenas e demais comunidades afetadas façam parte dos debates sobre a recuperação da biodiversidade do “sagrado Watu”. Douglas considera ainda que as ações feitas até o momento são insuficientes, e espera que haja mais políticas públicas voltadas à restauração do rio Doce.

“A gente vê atualmente a forma com que nosso país está lidando com essa situação do nosso sagrado Watu. É muito preocupante, porque não existe nenhum projeto de fato que vise a conservação do que resta do nosso sagrado rio Doce. Precisamos implementar políticas públicas, projetos e leis que visem promover a proteção do nosso rio e da biodiversidade gigantesca que existe no entorno e dentro do rio, e que ficou bastante afetada com o crime ambiental de Mariana. Foram jogados mais de 35 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério. Para nós é preocupante, porque destruiu toda uma biodiversidade, e reconstruir é complicado e demanda muito tempo”, declarou Douglas Krenak. 

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