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Embaixada americana recebe palestra sobre panorama migratório com pesquisadora

Embaixada americana recebe palestra sobre panorama migratório com pesquisadora

28 abril, 2022

Professora Sueli Siqueira trabalha com o tema há cerca de 20 anos, com foco na região imediata de Governador Valadares 

O processo migratório é natural: as pessoas sempre circularam por diferentes lugares do mundo, em busca da sobrevivência ou por questões culturais. Na atualidade, entretanto, uma série de fatores sociais, econômicos e naturais intensificaram esse processo, gerando grandes fluxos migratórios em direções específicas. 

Essas questões fazem parte do panorama apresentado pela professora Dra. Sueli Siqueira, para membros da Embaixada dos EUA em Brasília e do Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro. O encontro com a pesquisadora, solicitado pela embaixada, aconteceu em formato virtual na tarde da última terça-feira, 26 de abril. A palestra teve o  intuito de entender o histórico da imigração para os Estados Unidos no contexto do estado de Minas Gerais.

Estiveram presentes na palestra Cynthia Hutchinson, Consular Investigator at American Consulate General Rio de Janeiro, Raymond R. Nelson, Iuri Mateus Carvalho, Lara F Coelho, Jane Chongchit  Houston e Jeanne C Geers, membros da embaixada americana em Brasília. 

A professora abriu a apresentação explicando que, atualmente, vivemos um momento muito distinto dos boons migratórios que aconteceram no passado. Pela primeira vez, famílias inteiras têm deixado o Brasil para atravessar a fronteira, sem intenção de retorno. No movimento conhecido como “cai-cai”, em que a pessoa viaja sem o visto e se entrega para a polícia na fronteira, normalmente se usam as crianças como garantia de permanência no país. 

Até 2010, as pessoas migravam com um projeto de retorno — enviavam remessas para o Brasil, construíam casas na cidade de origem, e faziam investimentos que poderiam garantir uma vida confortável na volta para casa. Hoje as pessoas vão com a família completa, ou com a intenção de encontrar familiares que já estão nos EUA, e investem mais na qualidade de vida que levam no destino. 

palestra sobre processo migratório para a embaixada

Fatores econômicos do processo migratório

De acordo com a pesquisadora, a migração na região leste de Minas Gerais é muito diferente da que acontece no sul, no nordeste ou no oeste do estado. Composta por 58 cidades, sendo Governador Valadares a maior delas, a região imediata do município vem de um longo histórico de decadência econômica e perda populacional para migração, tanto interna quanto internacional. 

Em toda a região de Valadares, 68% dos domicílios possuem experiência migratória — ou seja, possuem algum familiar que migrou. Na cidade de Sardoá, a 67 km de Valadares, esse número chega a 80%. A cada 10 famílias, apenas 2 não possuem parentes que migraram. Um dos fatores que leva à busca por oportunidades em outro país é o econômico. De acordo com a professora Sueli, a região de Governador Valadares é a parte de Minas Gerais com a menor média salarial do estado. 

Fatores sociais do processo migratório

Além disso, fatores históricos contribuem para a criação de uma “cultura migratória” no local. Um deles são as chamadas “redes sociais”, os grupos de brasileiros que se concentram em determinadas cidades americanas e servem como suporte para pessoas que querem migrar. 

“Se eu perguntar para uma pessoa do Vale do Jequitinhonha, por exemplo, se ela quer ou já quis ir para os Estados Unidos, ela vai perguntar: ‘mas, como?’. Agora, se eu faço a mesma pergunta para alguém de Valadares, a pessoa com certeza já quis ir, quer ir ou conhece alguém que foi. Isso por causa das redes facilitadoras. Essas pessoas podem contar com apoio financeiro de parentes e amigos que migraram e, ao chegar no país de destino, elas têm a certeza de que encontrarão apoio com o idioma, ajuda para conseguir trabalho, e terão para onde ir”, explica a pesquisadora.  

“O melhor que eu tenho a fazer é ir embora” 

Outro ponto destacado pela professora como agravante no momento atual é a desesperança. De acordo com ela, há uma descrença no poder político do país, que leva a crer que a melhor opção é deixar o Brasil, já que “a situação nunca vai melhorar”. Nos últimos anos, surgiu um sentimento de decepção e desesperança.“Isso não quer dizer que não haja nacionalismo, mas sim que as pessoas não vêem na política alguém capaz de ‘salvar’ o país”, explica. 

E o que fazer para reduzir a migração? Para a professora Sueli, só existe uma solução: melhorar a distribuição de renda. Ela prova a hipótese com o exemplo do que aconteceu na primeira década dos anos 2000, com a crise da bolsa de valores que afetou drasticamente a economia norte-americana. 

Naquele momento, o Brasil vivia um período próspero, com estabilidade econômica e aumento do poder de compra. Esses fatores, somados, provocaram uma queda brusca no fluxo migratório, que só voltou a crescer há poucos anos. “Não é que a migração tenha parado, porque, como eu disse, ela é natural do ser humano, nunca para. Mas o acesso a bens de consumo aqui, e a crença na possibilidade de melhora de vida fazem a migração diminuir muito”, ressalta. 

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