Sumário
Escrito pelo professor da UNIVALE e quadrinista João Marcos Mendonça, Doce Amargo é retrato sensível da tragédia ambiental; lançamento em Valadares será no sábado (8), no Teatro Atiaia
Em 5 de novembro de 2015, o Brasil assistiu a um de seus episódios mais dramáticos: o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). A estrutura da mineradora Samarco liberou 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos – o equivalente a 21 mil piscinas olímpicas –, que avançaram em forma de lama tóxica por 660 quilômetros do Rio Doce. No caminho, 38 municípios foram atingidos, comunidades inteiras desapareceram, vidas foram interrompidas e um ecossistema foi soterrado, com a lama, por fim, chegando à foz, no Espírito Santo, e alcançando o Atlântico.

Entre as cidades impactadas estava Governador Valadares, com quase 280 mil habitantes. Dependente exclusivamente do Rio Doce para o abastecimento, a população viu as torneiras secarem e o cotidiano entrar em colapso. Foi nesse cenário que o quadrinista e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALE, João Marcos Mendonça, decidiu transformar a experiência vivida com a família em um relato gráfico. O resultado é Doce Amargo, lançamento da Editora Nemo (Grupo Autêntica), que chega às livrarias no ano em que a tragédia completa uma década. A obra já tem data de lançamento em Governador Valadares. Será neste sábado, dia 8 de novembro, a partir das 16h, no Teatro Atiaia (Rua Marechal Floriano, 513, Centro).
Misturando memória pessoal e testemunho coletivo, a obra acompanha o primeiro ano após o desastre: o medo diante da incerteza da água, as longas filas por galões, os boatos que se espalhavam mais rápido do que as informações oficiais, a sensação de abandono frente a promessas não cumpridas – e também o choque diante de comerciantes que, movidos pela oportunidade, cobravam preços abusivos pela água mineral ou colocavam à venda galões supostamente lacrados que continham água imprópria para consumo. Em meio a essa mistura de desespero e desconfiança, sobressaem ainda os pequenos gestos de solidariedade entre vizinhos, as conversas de família e as cenas corriqueiras que, diante do caos, ganham nova dimensão.
Você pode se interessar por:
“Meu interesse é contar essa história sob a perspectiva humanizada, do ponto de vista ordinário. De pessoas que tiveram suas rotinas impactadas em situações absolutamente comuns, como tomar água ou um banho. E também, principalmente, para que essa história não fosse esquecida – pois isso também acontece com o passar dos anos. Relembrar esta tragédia, agora que ela completa 10 anos, é um passo importante nesse sentido”, afirma o autor.
Com traço sensível e narrativa precisa, João Marcos constrói um testemunho gráfico que é, ao mesmo tempo, denúncia e memória. “Doce Amargo não nasce só da mão do artista. Ele nasce do encontro, da escuta e do amor que resiste”, escreve o professor Hernani Santana, coordenador do curso de Engenharia Civil e Ambiental da UNIVALE e autor do prefácio do livro, ao lembrar que a HQ reconfigura a memória da tragédia e rompe com versões oficiais.
As cores em Doce Amargo são de Marianne Gusmão, que conseguiu traduzir visualmente os sentimentos envolvidos na narrativa. Por meio da lama de rejeitos de minério de ferro, ela pontua a variação de tons emocionais da história, reforçando a densidade dramática e o impacto humano da tragédia. Marianne também assina as graphic novels Gioconda e O Menino Rei – estas em parceria com Felipe Pan e Olavo Costa.

Sobre o autor de Doce Amargo
João Marcos Mendonça nasceu em Ipatinga. Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG, é professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). Autor de mais de 15 livros em quadrinhos para crianças, publicados por diversas editoras, recebeu prêmios como a Cátedra 10 UNESCO de Leitura (PUC-Rio).
Em 2024, foi artista convidado do Batman Day, da DC Comics, em comemoração aos 85 anos do personagem. Atua também como ilustrador e pesquisador do uso das HQs na educação – trabalho que lhe rendeu o Troféu HQ Mix e originou publicações teóricas. Ministra palestras e oficinas em instituições de ensino, eventos literários e de quadrinhos no Brasil e no exterior. É autor da série de tiras Escola de Passarinhos, publicada no Instagram, que aborda o universo da educação e deu origem a uma startup de mídia. (Editora Nemo)









