Sumário
Só no primeiro trimestre de 2019, mais de 800 pessoas faleceram enquanto aguardavam por um transplante, de acordo com dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Na época, quase 8 mil pessoas novas haviam entrado na lista, se somando às mais de 32 mil que já esperavam por um doador.
A doação de órgãos ainda é um assunto praticamente desconhecido para muitos brasileiros. Devido à falta de informação sobre o tema, perdemos oportunidades de salvar vidas — um doador com órgãos saudáveis pode salvar a vida de até oito pessoas.
Para esclarecer um pouco mais o assunto, conversamos com o Dr. Márcio Soares Pena, médico nefrologista e egresso do mestrado em Ciências Biológicas da Univale. Confira:
A doação de órgãos e tecidos acontece somente com a autorização da família. Por isso é tão importante uma conversa para que saibam do seu desejo de se tornar um doador. Para aumentar as doações, são necessárias campanhas para sensibilizar as famílias para que elas autorizem o transplante quando o seu familiar estiver em morte.
Doar órgãos é um ato de amor e solidariedade. O transplante pode salvar vidas, no caso de órgãos vitais como o coração, ou devolver a qualidade de vida, quando o órgão transplantado não é vital, como os rins. Além disso, estrutura a saúde física e psicológica de toda a família envolvida com o paciente transplantado.
Um doador vivo é qualquer pessoa juridicamente capaz, atendidos os preceitos legais quanto à doação intervivos, que tenha sido submetido a rigorosa investigação clínica, laboratorial e de imagem, e esteja em condições satisfatórias de saúde, possibilitando que a doação seja realizada dentro de um limite de risco aceitável. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores em vida. Não parentes, somente com autorização judicial. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou parte da medula óssea.
Existem dois tipos de doadores falecidos:
Para aumentar a segurança dos transplantes durante a pandemia de Coronavírus o Ministério da Saúde elaborou as normas abaixo:
Critérios para captação, doação e transplante de órgãos durante a pandemia do Coronavírus
Como principal contraindicação absoluta na captação de órgãos está a confirmação de infecção pelo Sars-Cov-2 ou por síndrome respiratória aguda grave (Sars). Tecidos oculares, pele e órgãos podem ser doados por pacientes falecidos. Neste grupo, aqueles que tenham contraído Covid-19, mas com remissão total dos sintomas 14 dias antes do óbito, podem ser elegíveis para a doação de órgãos. A recomendação nesses casos é a realização de testes para comprovar o resultado negativo de coronavírus ao menos 24 horas antes da captação de órgãos.
Doadores falecidos com contato suspeito ou confirmado de Covid-19 devem ser descartados se a proximidade ocorreu a menos de 14 dias antes da morte. Se o período for superior, o falecido pode ser elegível para doação através de teste de RT-PCR que ateste negativo para a infecção. Pacientes que tiveram suspeita clínica antes da morte, mas com testagem negativa, podem doar se os sintomas ocorreram há mais de duas semanas.
Já os pacientes vivos podem fazer doação desde que não tenham diagnóstico confirmado de Covid-19. Doadores com suspeita clínica ou já curados da doença poderão doar órgãos apenas após 28 dias da resolução dos sintomas — mediante teste RT-PCR negativo. Mesmo doadores assintomáticos e sem suspeita de contato com o vírus deverão ser testados 24h antes da captação.
Situação para os receptores durante a pandemia de Coronavírus
Para os receptores que aguardam um transplante (seja de doadores vivos ou falecidos) também é obrigatória a realização de teste RT-PCR. Aqueles que apresentarem resultado positivo para a Covid-19 deverão ter o procedimento suspenso e somente após 28 dias estarão aptos para reavaliação e retorno para a lista de espera.
Márcio Soares Pena é médico graduado pela UERJ, com Residência de Clínica Médica e Nefrologia pela UERJ. Especialista em Nefrologia pela Sociedade Brasileira de Nefrologia / Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Atualmente é Diretor Médico do Instituto de Nefrologia Vale do Rio Doce/Hospital Bom Samaritano de Governador Valadares-MG e ex-diretor da Sociedade Mineira de Nefrologia - Regional Leste de Minas Gerais. Mestre na área de Imunopatologia das doenças Infecto-contagiosas pela Universidade Vale do Rio Doce (Univale) - MG em 2013, com projeto de pesquisa na área de infecção hospitalar relacionada à hemodiálise. Curso de Atualização em Nefrologia na Harvard Medical School, Boston, Estados Unidos.
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