Cresci em uma cidade pequena do interior de Minas em que as cachoeiras e as matas eram como o quintal de casa.
Começo essa prosa porque ao meu ver o contato com a natureza contribuiu muito para que eu me tornasse uma pessoa mais livre, mais criativa, mais conectada com a natureza que também sou eu. Também cresci numa família de músicos e professoras.
Criada no campo, convivi com diferentes manifestações culturais, os Caboclinhos, a Marujada, as festas religiosas com procissões, coroação, festeiros, leilão cantado no coreto da igreja e cantigas de roda. Pois bem! Nessa comunidade, a escola tinha um papel central de congregar pessoas. Participávamos de gincanas, fazíamos paródias, inventávamos peças teatrais… era pura fruição, vivência da arte em sua potência expressiva para darmos vazão aos sentimentos!
Da infância à vida adulta, a arte me foi companhia e aconchego, sobretudo a poesia. A paixão pelas palavras me conduziu a territórios de formação acadêmica em que a palavra e a comunicação são elementos essenciais: Jornalismo e Pedagogia! Dois modos de servir à vida pautados no amor às gentes, à linguagem, essa nossa incrível capacidade humana de criar ficção!
Múltiplos territórios e multiterritorialidades que me habitam, muitas maneiras de me apropriar desses diferentes lugares. Transpondo do campo da Geografia para a poesia é um pouco do que a poeta Cora Coralina diz sobre todas as vidas que carrega dentro de si. Assim, sou mãe, filha, irmã, tia, amiga, professora universitária, disparadora de versos no “Assalto Poético” … palhaça!
Eu, gente! A Felizbina!! Nossa, já tava na hora “deu” aparecer! Se deixar a Karla vai ficar aqui falando só dela e o texto que o povo pediu foi pra falar do lugar de palhaça… afff! Gente, ela é assim mesmo, sem licença poética, chega chegando e vai logo tomando a fala!
Mas é que eu preciso contar como foi que você acordou, Felizbina!
Em 2017 entrei na Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE como coordenadora do curso de Pedagogia, e conheci o projeto de extensão interdisciplinar do qual o curso fazia parte: Anjos da Alegria! Palhaçaria de hospital para humanizar os atendimentos no setor da pediatria no Hospital Municipal de Governador Valadares, levar o riso pra amenizar a dor e propiciar práticas inter profissionais em saúde para os estudantes extensionistas. O professor formador do projeto, e professor no curso de Pedagogia, também é ator, especialista em arte, formador do Teatro Universitário e palhaço, o Furreca. Sabe aquelas pessoas que têm abraço casa e sorriso sol? É ele! Não demorou muito pra nos tornarmos amigos.
O tempo segue seu fluxo como um rio, ora manso, ora traiçoeiro, com redemoinhos que nos tiram o fôlego… Foi com essa sensação que entrei em 2020, em janeiro, quando minha filha de 20 anos teve tuberculose pulmonar. Foi atendida no CREDEN-PES, por uma equipe multiprofissional incluindo a enfermeira e palhaça Filó do Tororó, também professora na Univale, no curso de Enfermagem.
O CREDEN-PES é o “camarim” dos palhaços do projeto Anjos da Alegria, pela proximidade que tem do Hospital Municipal e pela sensibilidade dos gestores em acolher a trupe de palhaços.
Com a pandemia em 2020 não vimos os anjos no CREDEN-PES, mas foi brotando o desejo de fazer parte daquele grupo, de retribuir de alguma forma todo o cuidado e atenção que recebemos nos longos meses de tratamento. Foi então que me inscrevi no edital para novos extensionistas. Não existia precedente e por não haver regra que impedia fui selecionada e comecei a participar de forma voluntária.
Fizemos uma imersão online em um final de semana com a palhaça Xuleta do Instituto Hahaha e não demorou muito pra que a Felizbina acordasse dentro de mim com um nariz amarelo, dois coques no alto da cabeça e fazendo brincadeiras com as palavras.
De 2021 até agora a Felizbina já se tornou mais conhecida que a Karla na universidade.
E já mesmo, quer ver? Eu é que vou contar: gravei programa infantil Balangandã e fiz um convite às crianças pra brincar de poesia, e também do espetáculo Do Canto ao Conto com o Teatro Universitário, e meus amigos palhaços, incluindo o Furreca. Fui em lares de idosos, creche, comunidade e gravamos o Balangandanjos, com histórias contadas pelos palhaços do projeto, incluindo minha amiga palhaça Filó do Tororó! E até trabalho acadêmico falando dos anjos já escrevemos, ou melhor, isso foi coisa da Karla…
Tá bem, Felizbina! Obrigada! Agora temos que finalizar e o que posso dizer como Karla?
Que dos muitos lugares de palhaça que ando percorrendo por aí eu não fazia ideia de como a Felizbina me guiaria de volta pra mim mesma, me reconectando com minha criança interior, que brinca, que sonha, que ama e que espalha alegria, embora eu acredite mesmo é que recebemos, nós duas, muuuuito mais do que levamos!!!
Texto originalmente publicado no blog Lugar de Palhaça.
Autora: Karla Nascimento de Almeida - Palhaça Felizbina - Governador Valadares/MG
Currículo: Jornalista e Pedagoga. Mestre em Gestão Integrada do Território. Professora do curso de Pedagogia da Univale, Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Núcleo Interdisciplinar Educação, Saúde e Direitos, idealizadora do Assalto Poético Univale, integrante do Teatro Universitário, professora extensionista no projeto Anjos da Alegria Univale e palhaça Felizbina.
Fotos: arquivo pessoal
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