Doença infectocontagiosa, a hanseníase é causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae, o bacilo de Hansen, e o último domingo de janeiro (neste ano, no dia 28) é a data em que se comemora o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, conforme a Lei 12.135/2009. Antigamente chamada de lepra, a enfermidade é uma das mais antigas conhecidas pela humanidade, como lembra o professor Pedro Marçal, do curso de Farmácia da UNIVALE. Atualmente em pós-doutorado nos Estados Unidos, o pesquisador se dedica a aprimorar o diagnóstico da hanseníase, facilitando a detecção precoce da doença, o que garante mais eficiência ao tratamento.
Conforme Pedro Marçal, desde o ano 600 antes de Cristo, aproximadamente, já é possível encontrar referências à hanseníase: “Essas referências procedem da Índia e da África, que parecem ser o foco inicial da doença”. O professor salienta que a doença é curável e o tratamento é gratuitamente distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas a dificuldade do diagnóstico é um gargalo que contribui para o registro de 200 mil novos casos anuais em todo o mundo, sendo 25 mil desses novos casos no Brasil – e Governador Valadares, aponta o professor, está em uma das principais áreas endêmicas no país.
“O diagnóstico é muito difícil, e hoje não existe nenhuma ferramenta laboratorial que consiga dar 100% de certeza de que o paciente está doente ou não. Às vezes a gente encontra muitos erros de diagnóstico, e aí não se consegue entrar com o tratamento precoce. Essa situação acaba por permitir uma manutenção de alto número de novos casos da doença todos os anos. Grande parte desses casos está na Índia, mas o Brasil é o segundo país. O Brasil é dividido em diferentes clusters, de acordo com o número de novos casos. Governador Valadares, por exemplo, está localizado no cluster 6. O Brasil é o segundo país no mundo em número de casos, e Valadares está na sexta área de prioridade do Brasil. É uma área com altos índices de novos casos de hanseníase, a gente precisa olhar com carinho para essa população”, observa o professor.
A pesquisa de Pedro Marçal busca entender melhor o funcionamento do sistema imunológico dos pacientes com hanseníase, para identificar biomarcadores imunológicos capazes de serem utilizados para o teste diagnóstico.
“Eu trabalho com algumas proteínas que são produzidas pelo sistema imunológico. Estou tentando descobrir qual é o melhor antígeno capaz de estimular o sistema imune que vai gerar proteínas que vão poder me indicar se o paciente está doente ou não. Por exemplo, um paciente doente vai produzir muitas dessas proteínas. Um paciente sadio produz pouca dessas proteínas. O objetivo final é estabelecer um teste rápido, tipo aquele teste de glicose ou aquele teste de gravidez, em que eu coloco uma gotinha do sangue do paciente e já consigo identificar se ele está doente ou não”, detalhou.
A doença é transmitida pelas vias aéreas superiores e acontece com a exposição prolongada ao bacilo de Hansen, o que torna a contaminação mais provável de ocorrer em pessoas que vivem próximas a um paciente já afetado – frequentemente, pessoas que vivem na mesma moradia. “Se você convive com um indivíduo doente, respirando aquele bacilo, você pode contrair a doença. Mas é necessário um convívio prolongado para o desenvolvimento da doença, porque grande parte da população possui resistência natural. Como essa bactéria cresce muito lentamente, é necessário que se conviva 5, 6 ou 7 anos com um paciente doente, para contrair a doença. E só depois de todo esse tempo é que a sintomatologia vai aparecer”, explicou Pedro Marçal.
Os principais sinais e sintomas da hanseníase são manchas brancas ou avermelhadas na pele, com perda de sensibilidade e comprometimento da função neural. “O nervo fica mais grosso, podemos dizer assim. E também se percebe perda de sensibilidade nas extremidades do corpo e perda do tônus muscular. O paciente perde um pouco a força do músculo, porque essa bactéria gosta de ficar alojada nos nervos, em uma célula neural chamada Célula de Schwann, o que acaba comprometendo a função neural. Ao comprometer a função neural, a doença gera essa perda de sensibilidade, essa perda do tônus muscular”, acrescentou o pesquisador.
Pedro orienta que, ao se perceber sinais da hanseníase no corpo, é necessário procurar um médico especializado, para a realização do diagnóstico. Quando o diagnóstico é realizado nos estágios iniciais da doença, o tratamento com um coquetel de antibióticos é capaz de quebrar a cadeia de transmissão, evitando a proliferação de casos de hanseníase.
“O tratamento da doença consiste no que a gente chama de poliquimioterapia, um conjunto de antibióticos que o paciente vai utilizar por até um ano para que a doença possa ser curável. O interessante é que, na primeira dose do antibiótico, 99% das bactérias já são mortas, e o paciente deixa de ser contagioso. O diagnóstico precoce rompe a cadeia de transmissão. Essa é a principal forma de combate à doença e de prevenção também”, afirmou.
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