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Sinais de hanseníase nas costas de um homem

Pesquisa de professor da UNIVALE contribui para o combate à hanseníase

25 janeiro, 2024

Doença infectocontagiosa, a hanseníase é causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae, o bacilo de Hansen, e o último domingo de janeiro (neste ano, no dia 28) é a data em que se comemora o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, conforme a Lei 12.135/2009. Antigamente chamada de lepra, a enfermidade é uma das mais antigas conhecidas pela humanidade, como lembra o professor Pedro Marçal, do curso de Farmácia da UNIVALE. Atualmente em pós-doutorado nos Estados Unidos, o pesquisador se dedica a aprimorar o diagnóstico da hanseníase, facilitando a detecção precoce da doença, o que garante mais eficiência ao tratamento.

Conforme Pedro Marçal, desde o ano 600 antes de Cristo, aproximadamente, já é possível encontrar referências à hanseníase: “Essas referências procedem da Índia e da África, que parecem ser o foco inicial da doença”. O professor salienta que a doença é curável e o tratamento é gratuitamente distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas a dificuldade do diagnóstico é um gargalo que contribui para o registro de 200 mil novos casos anuais em todo o mundo, sendo 25 mil desses novos casos no Brasil – e Governador Valadares, aponta o professor, está em uma das principais áreas endêmicas no país.

Professor Pedro Marçal, apresentando trabalho sobre hanseníase no encontro anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene (ASTMH, na sigla em inglês)

“O diagnóstico é muito difícil, e hoje não existe nenhuma ferramenta laboratorial que consiga dar 100% de certeza de que o paciente está doente ou não. Às vezes a gente encontra muitos erros de diagnóstico, e aí não se consegue entrar com o tratamento precoce. Essa situação acaba por permitir uma manutenção de alto número de novos casos da doença todos os anos. Grande parte desses casos está na Índia, mas o Brasil é o segundo país. O Brasil é dividido em diferentes clusters, de acordo com o número de novos casos. Governador Valadares, por exemplo, está localizado no cluster 6. O Brasil é o segundo país no mundo em número de casos, e Valadares está na sexta área de prioridade do Brasil. É uma área com altos índices de novos casos de hanseníase, a gente precisa olhar com carinho para essa população”, observa o professor.

A pesquisa de Pedro Marçal busca entender melhor o funcionamento do sistema imunológico dos pacientes com hanseníase, para identificar biomarcadores imunológicos capazes de serem utilizados para o teste diagnóstico.

Professor Pedro Marçal em Congresso da Sociedade Americana de Microbiologia (ASM, na sigla em inglês), ocorrido na cidade de Houston
Professor Pedro Marçal, apresentando trabalho em Congresso da Sociedade Americana de Microbiologia (ASM, na sigla em inglês)

“Eu trabalho com algumas proteínas que são produzidas pelo sistema imunológico. Estou tentando descobrir qual é o melhor antígeno capaz de estimular o sistema imune que vai gerar proteínas que vão poder me indicar se o paciente está doente ou não. Por exemplo, um paciente doente vai produzir muitas dessas proteínas. Um paciente sadio produz pouca dessas proteínas. O objetivo final é estabelecer um teste rápido, tipo aquele teste de glicose ou aquele teste de gravidez, em que eu coloco uma gotinha do sangue do paciente e já consigo identificar se ele está doente ou não”, detalhou.

Formas de contaminação, sintomas e tratamento da hanseníase

A doença é transmitida pelas vias aéreas superiores e acontece com a exposição prolongada ao bacilo de Hansen, o que torna a contaminação mais provável de ocorrer em pessoas que vivem próximas a um paciente já afetado – frequentemente, pessoas que vivem na mesma moradia. “Se você convive com um indivíduo doente, respirando aquele bacilo, você pode contrair a doença. Mas é necessário um convívio prolongado para o desenvolvimento da doença, porque grande parte da população possui resistência natural. Como essa bactéria cresce muito lentamente, é necessário que se conviva 5, 6 ou 7 anos com um paciente doente, para contrair a doença. E só depois de todo esse tempo é que a sintomatologia vai aparecer”, explicou Pedro Marçal.

Os principais sinais e sintomas da hanseníase são manchas brancas ou avermelhadas na pele, com perda de sensibilidade e comprometimento da função neural. “O nervo fica mais grosso, podemos dizer assim. E também se percebe perda de sensibilidade nas extremidades do corpo e perda do tônus muscular. O paciente perde um pouco a força do músculo, porque essa bactéria gosta de ficar alojada nos nervos, em uma célula neural chamada Célula de Schwann, o que acaba comprometendo a função neural. Ao comprometer a função neural, a doença gera essa perda de sensibilidade, essa perda do tônus muscular”, acrescentou o pesquisador.

Pedro orienta que, ao se perceber sinais da hanseníase no corpo, é necessário procurar um médico especializado, para a realização do diagnóstico. Quando o diagnóstico é realizado nos estágios iniciais da doença, o tratamento com um coquetel de antibióticos é capaz de quebrar a cadeia de transmissão, evitando a proliferação de casos de hanseníase.

“O tratamento da doença consiste no que a gente chama de poliquimioterapia, um conjunto de antibióticos que o paciente vai utilizar por até um ano para que a doença possa ser curável. O interessante é que, na primeira dose do antibiótico, 99% das bactérias já são mortas, e o paciente deixa de ser contagioso. O diagnóstico precoce rompe a cadeia de transmissão. Essa é a principal forma de combate à doença e de prevenção também”, afirmou.

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