Por: Natalia Lima Amaral
Você se lembra da Érika Benigna? A graduada em História aqui na UNIVALE e professora da rede pública de ensino defenderá sua dissertação do Mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT) nesta segunda-feira (29/08). Com o título “‘ESTOU CANSADA, MUITO CANSADA’: opressões interseccionais de raça e gênero vivenciadas por adolescentes negras, estudantes da educação básica”, a pesquisadora aborda como se tramam as opressões interseccionais de raça e gênero nas vivências de adolescentes negras e estudantes da educação básica.
O tema foi construído a partir da trajetória pessoal de Érika enquanto mulher negra, professora da educação básica e ativista de movimentos sociais. Além disso, ela acredita que a compreensão teórica sobre a necessidade e urgência de se refletir sobre gênero e raça dentro e fora do ambiente escolar são essenciais nessa caminhada. A pesquisadora explica que, por mais que a pesquisa tenha sido centralizada na escola, é possível observar que as adolescentes negras trazem nos corpos, territórios e vivências, outras opressões de raça e gênero de outros territórios: suas casas, ruas, bairro, lojas, shopping, redes sociais, relações com a política e outros fatores.
“A pesquisa traz denúncias de como as adolescentes vivenciam as tentativas de regulação, as suas vulnerabilidades e às exposições às violências físicas e simbólicas a partir de seus corpos-territórios. Sobretudo, a dissertação também aborda a naturalização das opressões dentro de uma sociedade estruturada pelo racismo e sexismo”, explica Érika. De acordo com a pesquisadora, as opressões interseccionais estão presentes em episódios de interconexões com vários mecanismos, como um suposto padrão de beleza, colorismo, racismo institucional e racismo recreativo.
E é nesse momento que as participantes da pesquisa, adolescentes negras e estudantes da educação básica ocupam o seu lugar de fala. Durante o mestrado, assim como na pesquisa e na escrita da dissertação, Érika não se sentiu sozinha. A partir de uma rede de apoio de mulheres negras ela conseguiu permanecer firme e chegar até a defesa.
“Muita gente me ajudou, de diversas formas, para que eu conseguisse chegar à banca de defesa da dissertação. E quando falo de rede de apoio, me refiro às mulheres que vivenciam a filosofia africana UBUNTU ‘eu sou, porque nós somos’. Essas mulheres estiveram conectadas comigo durante o mestrado. ‘Umuntu Ngumuntu Ngabantu’: ‘Uma pessoa é uma pessoa por causa das outras pessoas’. Ou seja: eu só estou próximo de realizar o sonho de concluir o mestrado porque outras mulheres estiveram comigo”.
Maria Celeste Reis, orientadora da Érika neste processo, contou que a temática de interseccionalidade de raça e gênero é um tanto desafiadora. Mas o processo de caminhada com a Érika foi de aprendizado mútuo. “Entre a orientanda, a orientadora e a coorientadora houve um diálogo de saberes e processos, gestados na academia e em outras experiências da educação. Além disso, tivemos também contribuições na área da geografia, dos saberes de uma professora participante de movimentos sociais e ativista de pautas raciais. A experiência foi muito comovente, principalmente ao me deparar com o racismo estrutural persistente nas experiências que a pesquisa analisou”, ressalta a orientadora.
Fernanda Cristina de Paula, professora do GIT, é coorientadora da dissertação de Érika e descreve a experiência de participar da pesquisa como “libertadora”.
“Libertador não só no sentido de me libertar, mas libertar os outros, a sociedade. A Érika tem dado voz a quem nunca é escutado: a mulher, a jovem, a menina e a adolescente negra, que é a pessoa que mais sofre discriminação, preconceito, injustiça, desigualdade de salário e de respeito dentro da sociedade. As pesquisas econômicas e de outros tipos estão aí para não me deixar mentir. Portanto, dar voz a essas meninas, para entendermos o universo delas e as opressões que elas sofrem, é libertador e também um passo hiper importante para construirmos formas de lutar contra essa dupla discriminação. A discriminação interceccional”, explica Fernanda.
E neste momento de reta final, de defesa da sua dissertação, Érika compartilhou um pouco do seu sentimento. “Estou com medo, ansiosa e feliz. Foram momentos difíceis até aqui, mas vamos superando. Essa pesquisa não é só minha. Pertence a todas as meninas, adolescentes, mulheres negras que sofreram e sofrem opressões interseccionais de raça e gênero. E uma defesa coletiva, levo para banca comigo muitas vozes. Penso que será uma banca de defesa bonita e emocionante”.
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