Sumário
Por: Natalia Lima Amaral
“A educação é uma forma de atuar para transformação de nossa sociedade para melhor”. As palavras são de Érika Benigna Nascimento, professora da rede pública de ensino e aluna do mestrado em Gestão Integrada do Território na Univale. Graduada em História, aqui na Universidade, ela foi aprovada em um concurso para atuar na área administrativa da Superintendência Regional de Ensino. Mas foi no ensino que Érika encontrou diversas formas de revolucionar.
Érika faz parte dos 5% da população brasileira que possuem formação de nível superior (graduação). Infelizmente, os dados ainda pioram: o número de professores da rede pública com mestrado é de apenas 2,1%. Já os pretos e pardos, grupo do qual Érika faz parte, correspondem a apenas 1 em cada 4 matriculados em programas de mestrado e doutorado no Brasil.
Apesar do crescimento desse número com o passar dos anos, ele é assustadoramente pequeno em relação à porcentagem de pretos e pardos na população brasileira. Eles representam 56,2% de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE de 2019. No mestrado, Érika tem aproveitado o espaço de reflexão para se aprofundar em diversas temáticas, principalmente voltadas para a área da educação.
Enquanto estava estudando aqui na Univale, Érika foi funcionária da biblioteca e, quando estava terminando sua graduação, passou no primeiro concurso para atuar na área administrativa da Superintendência Regional de Ensino. Logo que tomou posse, uma outra oportunidade surgiu. Dessa vez, o concurso era para professores de educação básica no estado de Minas Gerais.
“Já que o meu cargo na Superintendência era administrativo, tentei o concurso para ser professora e também passei. Fiquei um tempo trabalhando nos dois cargos: como administrativo na superintendência e dando aulas à noite. Quando engravidei da minha filha, pedi exoneração do cargo da Superintendência e fiquei apenas com o cargo de professora da educação básica. Em seguida, passei em outro concurso. Hoje tenho dois cargos efetivos de professora de educação básica do estado”, conta Érika.
Érika foi aprovada no mestrado Git da Univale e estava lecionando 36 aulas semanais para o Ensino Fundamental II (7° e 8° ano) na Escola Estadual São José e na Escola Estadual Quintino Bocaiuva — concluir o mestrado conciliando ambas missões vinha sendo uma tarefa impossível. Foi então que ela entrou com o processo para concluir os estudos por meio de uma licença remunerada.
“Há alguns anos, o estado de Minas havia colocado uma resolução de que você só poderia tirar licença se não causasse nenhum prejuízo financeiro ao estado. E por muito tempo não foi possível recorrer. Mas em junho do ano passado, essa parte específica foi retirada da resolução e eu já estava cursando o mestrado quando ela foi publicada. Decidi fazer o pedido e montei o processo com uma série de documentos. Ele é feito a partir da escola que você trabalha, depois passa para a superintendência e em seguida é encaminhado para a secretaria de estado e educação.”
De acordo com a professora, esse é um processo muito moroso. Alguns documentos são de responsabilidade da pessoa interessada, enquanto outros são emitidos pela escola que o docente trabalha, e outros ainda pela Superintendência Acadêmica Regional de Ensino. No caso da Érika, o GIT também realizou uma série de declarações sobre o andamento do seu curso com a colaboração da orientadora de projeto.
Em muitas de suas declarações, o filósofo e educador Paulo Freire afirma que não se pode falar de educação sem amor. E essa é uma das muitas características que podemos ver em Érika. Para ela o mestrado não é apenas uma maneira de elevar sua titulação, mas de avançar com as suas experiências enquanto professora e ativista do movimento negro. Sua caminhada no GIT tem ajudado na união de um conhecimento mais sistematizado e de um forte arcabouço teórico, elevando sua prática para combater as opressões de raça e gênero no ambiente escolar.
“Eu venho de uma formação de movimentos sociais. Sou ativista do movimento negro e minha dissertação é sobre isso. Tive um sonho de fazer Direito, mas a licenciatura veio por causa do valor da mensalidade na época. Tive acesso a bolsa de funcionários enquanto trabalhava na biblioteca da Univale. Mas hoje sou extremamente realizada como professora e não me vejo fazendo outra coisa. Prova disso é que me exonerei de um cargo administrativo para lecionar. Então, posso dizer que minha decisão de ser professora tem um grande fator: através da militância, entender como a educação é uma forma de atuar para transformação de nossa sociedade para melhor.”
Casos como o de Érika são motivo de orgulho, principalmente por abrirem caminho para novas conquistas dentro de diversas causas justas. Todo o seu amor e engajamento a respeito das lutas de raça e gênero podem ser vistos na sua dissertação de mestrado.
“Nós temos a lei 10.639, de 2003, onde se trata da questão de se trabalhar, principalmente nós professores de História, a cultura afro-brasileira como forma de combater a questão do racismo. Mas a maioria de nós não tem uma capacitação para poder trabalhar. A minha busca pelo mestrado é para aprimorar mesmo os meus conhecimentos e trabalhar de forma mais efetiva essas temáticas.”
Érika tem como tema de pesquisa as “adolescentes negras: interseccionalidade de raça e gênero no território escolar”. Em meio às discussões sociais e acadêmicas, sob orientação da professora Fernanda Cristina Paula e depois da professora Maria Celeste Reis Fernandes de Souza, ela ainda levanta pautas sobre a sobreposição de exclusões a que são expostas as mulheres negras.
“É interessante que, por exemplo, na minha pesquisa eu trago algumas mulheres negras teóricas que falam da dificuldade que as mulheres negras têm de chegarem à academia. Das 5 mulheres que participaram da minha banca de qualificação, 4 são mulheres negras. Foi uma banca bem simbólica.”
Receba notícias sobre: vestibular, editais, oportunidades de bolsa, programas de extensão, eventos, e outras novidades da instituição.
"*" indica campos obrigatórios