Por: Natalia Lima Amaral
Na manhã da última sexta-feira (1/12), os alunos do primeiro e segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Israel Pinheiro estiveram no campus II da UNIVALE para realizarem mais uma etapa do seu projeto “Olhar sobre a tela”, aprovado em uma seleção do edital da Secretaria de Estado de Educação (SEE) de Minas Gerais. A professora Sueli Siqueira, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Desenvolvimento Regional (NEDER), que pertence ao mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT), foi a responsável por acolhê-los e orientá-los a respeito da criação de um formulário de pesquisa e do funcionamento de um grupo focal.
Idealizador do projeto, professor de Sociologia e egresso da UNIVALE, José Soares Silva Filho contou que a necessidade de conhecer os seus alunos partiu do fato da escola ser considerada central, recebendo estudantes de todos os bairros da cidade. E, para além disso, compreender como eles vivenciaram o espaço escolar durante o período da pandemia da Covid-19.
Por meio do Programa de Iniciação Científica na Educação Básica (ICEB), a SEE selecionou 400 projetos e a proposta do colégio Israel Pinheiro foi uma das contempladas. Referenciado entre os estudantes como “Olhar sobre a tela”, ele busca representar o olhar dos alunos sobre a escola por meio de um curta metragem. Várias etapas e normas já foram desenvolvidas pelos alunos, como a capacitação sobre o funcionamento e a produção necessária por trás das câmeras.
A etapa seguinte, que está em desenvolvimento agora, é relacionada à introdução à pesquisa, onde eles recebem todo o suporte necessário da professora Sueli e dos estudantes do mestrado GIT: o desenvolvimento de um formulário e o funcionamento de um grupo focal.
Acompanhe outra visita dos alunos do Israel Pinheiro à UNIVALE
Sueli explicou que um formulário bem desenvolvido é fundamental para a coleta de dados de uma pesquisa, seja ela feita por meio de observações ou de um questionário feito no grupo focal. “O formulário possibilita a compreensão da questão ao participante que irá responder ao estudo. É importante saber o que está na mente da pessoa quando ela responde a uma pergunta, visto que ela pode ter inúmeros tipos de respostas e com direcionamentos diferentes”, comentou.
Como principal orientadora dos alunos nesse projeto, Sueli comentou que para elaborar qualquer técnica é importante ter claro quais são os objetivos e o que se pretende explorar com o projeto. “A partir de um projeto claro, em que eu tenho objetivos definidos, as questões vão sendo elaboradas de acordo. Ou seja, as perguntas são todas pautadas naquilo que eu pretendo avaliar, compreender e refletir”, disse.
Aluno e um dos participantes do projeto, Shiro Pires acredita que a construção do formulário é uma das principais bases do projeto. “Sem ele nós não podemos avançar muito no nosso projeto. Isso dá um pouco de medo, por não sabermos se vamos conseguir lidar com pessoas, opiniões e situações diferentes. Mas, ainda assim, é uma nova forma de saber como perceber melhor a situação escolar e em equipe”, explicou.
Durante a visita dos alunos, a professora Sueli pôde realizar uma pequena demonstração de como acontecem as interações em um grupo focal. O grupo de alunos foi organizado em círculo e cada um escolheu um novo nome com base em espécies de animais. Além dos integrantes, a coordenadora do NEDER explicou a importância dos observadores e das anotações que são coletadas durante as trocas.
“O grupo focal é uma forma de coletar dados em que as pessoas são levadas a refletir sobre um determinado tema e, em grupo, emitir a sua posição, opinião e compreensão a respeito da questão de pesquisa. Acredito fortemente na nossa importância, enquanto universidade, em participar desse intercâmbio de ideias, principalmente por se tratar da comunidade estudantil de uma escola pública. Nossa missão é produzir conhecimento, levando e dando suporte aos alunos para que eles possam realizar seus estudos, por meio da pesquisa, e assim compreender a sua própria realidade”, ressaltou Sueli.
Uma das alunas e participante do projeto, Ludmila Rodrigues de Castro, compartilhou que quando as aulas foram suspensas por conta da pandemia, ela não possuía acesso a internet em casa, nem celular.
“Quando tudo aconteceu foi um baque, porque não tinha o que fazer. No começo, não podia sair de casa, minha mãe e meu pai são mais de idade e eu fiquei com medo. Foi então que minha mãe conversou com algumas pessoas e descobriu que estavam entregando apostilas em casa. Foi difícil pra mim. Acredito que se eu tivesse internet, talvez eu poderia pesquisar as aulas e as minhas dúvidas. E naquele começo eu estava mais animada para estudar, mas não tinha um professor pra me explicar a apostila”, contou Ludmila.
Com o tempo, a aluna conta que conseguiu sair de casa e juntar forças com um amigo que tinha acesso à internet.
“Meu amigo tinha acesso a internet, mas estava desanimado de fazer as apostilas. Então eu disse ‘você me ajuda com a internet e eu te ajudo dando coragem pra fazer os deveres e tudo mais’. É muito importante tratarmos sobre isso no nosso projeto porque sei que outras pessoas também passaram por isso. Não foram só os professores, a diretoria e o governo que tiveram que se acostumar com a nova forma de estudar na pandemia, e muitas pessoas nem tiveram um amigo como eu, com acesso a internet”, relatou Ludmila.
Para ela, dividir sua experiência e participar desse projeto está sendo transformador. “Eu aprendi a lidar com pessoas e com o fato de que temos opiniões divergentes. Eu sempre fui boa com a minha opinião e não gostava de lidar com a dos outros. Com esse projeto tive que aprender que as pessoas têm opiniões diferentes, que eu tenho a minha opinião e nem sempre ela irá prevalecer. Então, lidar com as pessoas foi o que mais me impactou nesse projeto até hoje e acho importante todos poderem compartilhar o que passaram durante esse período da pandemia”, contou Ludmila.
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