Sumário
Especialista internacional em migrações, Sueli Siqueira foi a primeira entrevistada do Ed. Pesquisa, programa da UNIVALE TV apresentado pelo professor Edmarcius Carvalho
Donald Trump assumiu o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos em 25 de janeiro deste ano, com a promessa de aumentar o número de deportações de pessoas em situação irregular no país. A professora Sueli Siqueira, especialista internacional em estudos migratórios e docente da UNIVALE, analisa que a política dos EUA em relação a imigrantes é a mesma já há décadas, mas Trump, ao colocar a deportação como meta, autoriza a xenofobia e a perseguição, causando medo em cidadãos comuns.
“Ele coloca o migrante como criminoso. E é muito pequena a porcentagem de imigrantes que cometeram algum crime, principalmente brasileiros. Quando são deportados, a Polícia Federal já tem a relação, e a maioria é liberada. Às vezes tem um caso, em um voo de 80 a 120 pessoas, de pessoa que cometeu crime no Brasil. E os brasileiros que tiveram problemas nos Estados Unidos também são um grupo muito pequeno”, afirmou Sueli Siqueira, em entrevista para o primeiro episódio do programa Ed. Pesquisa, apresentado pelo professor Edmarcius Carvalho na UNIVALE TV.
Com doutorado em Sociologia e Política pela UFMG e pós-doutorado no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, Sueli Siqueira leciona no mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT) na UNIVALE, onde também atua como coordenadora do Núcleo de Estudos Sobre Desenvolvimento Regional (Neder). Na entrevista ao professor Edmarcius, a pesquisadora explicou que a política migratória norte-americana não mudou, e as deportações acontecem em grande número, mesmo quando há alternância de poder nos EUA
“As deportações são sempre em torno de 1,5 milhão, ou 2 milhões. O presidente que mais deportou foi o Barack Obama [do partido Democrata, de oposição ao partido Republicano de Trump], e o que menos deportou foi outro Democrata, o Jimmy Carter. Enquanto Obama deportou em torno de 3 milhões de pessoas, Carter deportou cerca de 200 mil. A política migratória está estabelecida nos Estados Unidos, mas é usada de forma diferente. A grande diferença do atual governo, em relação a outras ações, é a de transformar a migração em discurso. Esse discurso vem desde a campanha, desde o primeiro mandato, e transforma o migrante em ‘Inimigo número 1’ dos Estados Unidos. A causa da violência, dos problemas econômicos e da inflação está sendo creditada ao migrante, e isso não é verdade. Mas agrada aos ouvidos das pessoas”, avaliou Sueli Siqueira.
A pesquisadora defende que o Brasil elabore políticas públicas para receber o deportado, fragilizado na saúde física e na saúde mental, e que essas políticas devem ser criadas em nível federal, estadual e municipal. Entre outros tópicos, Sueli Siqueira também comentou o panorama de seis décadas de fluxo migratório entre o Leste de Minas Gerais e os EUA.
“Um conjunto de fatores que propiciou esse movimento migratório. O Brasil sempre foi um país que recebeu migrantes. Isso é histórico, e nossa região também é marcada pela presença de estrangeiros aqui. A mudança nisso acontece exatamente em nosso território, o ponto de partida dos primeiros emigrantes brasileiros, com destino para os Estados Unidos. Ao longo do tempo, esse movimento se espalhou para outros países, até mesmo outros continentes. Mas aqui começou esse movimento, na década de 1960. Essa mobilidade pode aumentar ou diminuir, dependendo de aspectos como a política migratória do país de destino, questões econômicas locais e no país de destino. A cultura da migração é essa ideia, e não apenas em Valadares. Em toda a região intermediária, de uns 50 e tantos municípios”, declarou.
Veja, na íntegra, a entrevista com Sueli Siqueira no Ed. Pesquisa:
