Sumário
O terremoto que atingiu a Turquia e a Síria no dia 6 deste mês deixou mais de 40 mil mortos nos dois países. Muitas das fatalidades aconteceram com vítimas soterradas nos cerca de 6,5 mil prédios que desabaram somente na Turquia. A destruição levantou questionamentos sobre se os impactos poderiam ter sido menores e, em resposta, o governo turco chegou a prender mais de 100 empreiteiros responsáveis por obras em alguns edifícios, alegando descumprimento de normas técnicas de segurança adotadas após terremotos ocorridos em 1999.
Para a coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univale, professora Ilara Duran, a possibilidade de terremotos no país pode ter sido desconsiderada em edificações turcas. Ela, que também possui especialização em Construção Civil, lembrou das responsabilidades dos profissionais que planejam e executam obras.
“Existem normas de segurança e normas de desempenho das edificações. Em todos os projetos, que fazemos como arquitetos, assumimos a responsabilidade sobre eles. Por isso também que fazemos um documento de autoria, que se chama Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), junto ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). Isso implica em responsabilidade de projeto e escolha de materiais”, exemplificou.
Mesmo sem terremoto ser algo comum por aqui, no Brasil, alguns desastres também já provocaram discussões sobre normas técnicas. Em 28 de fevereiro de 1998, há quase 25 anos, o Edifício Palace II, no Rio de Janeiro, foi implodido após desabamentos de vigas de sustentação – 44 apartamentos desmoronaram, causando oito mortes. Mais recentemente, em janeiro de 2013, o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria-RS, deixou 242 mortos e levantou debates sobre prevenção ao pânico.
O coordenador do curso de Engenharia Civil da Univale, professor Rondinelly Geraldo Pereira, acredita que o grande problema relacionado a incidentes e desastres no Brasil não é a falta de normas ou instruções técnicas.
“Considerando a localização geográfica do Brasil e o histórico de fenômenos naturais, temos normas que são eficientes para que nossas construções sejam resilientes. Porém, cada construção exige conhecimentos inter e multidisciplinares, e negligenciar alguns fatores pode levar a tragédias como as diversas que já aconteceram no país. Evitar essas tragédias é função da Engenharia e, por isso, tanto nas universidades quanto no conselho (CREA), são frequentemente discutidas estratégias para que o nome de nossos profissionais não seja atrelado a tão tristes fatos”, ponderou o professor.
Rondinelly também avalia que as reflexões sobre as tragédias ocorridas no Brasil causaram mudanças. “O caso do Palace II levou muitas pessoas a repensarem práticas de uso de materiais, mas também ficou marcado por como fazer investigação sobre o que aconteceu, e diagnósticos precipitados. Esse caso do Palace II mesmo, mais que a questão legal de quem foi responsabilizado, ficou marcado pela pressão da mídia, para que se encontrassem culpados de maneira rápida. E isso trouxe consequências que dariam uma grande discussão. No caso da Boate Kiss é diferente, porque trouxe alteração de leis e muita mudança de comportamento em relação à prevenção e combate a incêndio e pânico. A lei tem até o apelido de lei da Boate Kiss, e com isso houve um maior rigor, ou cuidado, em relação a riscos de acidentes envolvendo incêndio e pânico”, analisou o coordenador.
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