Sumário
Por: Natalia Lima Amaral
Afirmando o compromisso de desenvolver a inteligência territorial do contexto em que está inserido, o Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT/UNIVALE), recebe os seus primeiros alunos ingressantes por meio de ações afirmativas. Girley Krenak e Maria do Carmo Silva pertencem a comunidades de povos tradicionais do Brasil e contribuem ativamente na promoção do conhecimento acerca de temáticas extremamente relevantes para a resistência de seus territórios.
O professor do GIT, Bruno Capilé, acredita que a chegada dos alunos de políticas afirmativas traz um retorno fantástico para a comunidade acadêmica, assim como para as comunidades tradicionais.
“Os debates e conversas nas disciplinas trazem grande aprendizado para todos os envolvidos. Girley Krenak está fazendo uma pesquisa sobre a memória coletiva de seu povo, e Maria do Carmo Silva traz a realidade da luta territorial e do modo de vida dos quilombolas. Isso permite que outros alunos ressignifiquem seus trabalhos, suas pesquisas, à luz desta realidade, além de levarem à sua comunidade e relações sociais os conhecimentos e debates que ocorrem nas aulas e eventos do GIT”, comenta Bruno.
As ações afirmativas são políticas focadas no combate de discriminações raciais, religiosas, étnicas, de gênero e outras, com o objetivo de aumentar a participação de minorias em setores como educação, saúde, emprego, no reconhecimento cultural e outros. Um exemplo de ação afirmativa é a promoção de cotas e fundos de estímulo, como bolsas de estudos, para tais grupos minoritários. O coordenador do Programa de Mestrado da UNIVALE, Haruf Salmen Espíndola, destaca o apoio da Fundação Percival Farquhar (FPF) e da Universidade em prol do compromisso na sustentabilidade, no apoio e na consolidação do Programa.
Dada a inserção do GIT no cenário de diversos territórios, como os Vales do Rio Doce, do Jequitinhonha, do Mucuri e no Leste de Minas, Haruf destaca que essas regiões são marcadas por muitas vulnerabilidades em diversos setores e aspectos da sociedade, de maneira que tais políticas promovidas no Mestrado auxiliam no desenvolvimento territorial sustentável.
“As políticas afirmativas possibilitam a inclusão, a diversidade e a pluralidade de mestrandos e doutorandos, servindo de incentivo para indígenas, quilombolas e outras minorias, de maneira que o acesso à pós-graduação seja democratizado. Nas últimas décadas essas ações têm crescido no Brasil e, comprometidos com a comunidade, a UNIVALE e a FPF buscam atendê-las como uma resposta ao nosso trato comunitário, para além das recomendações do Ministério da Educação (MEC) e da Capes”, reforça Haruf.
Egresso do curso de Agronomia, da turma de 2006, Girley Krenak pertence a comunidade indígena Krenak e é orientado pela professora Patrícia Falco Genovez. Seu projeto de pesquisa visa a criação de um inventário participativo, que irá referenciar como a cultura krenak está, principalmente após algumas lutas e resistências que sucederam alguns acontecimentos, documentando o repertório de referências culturais que constituem o patrimônio da comunidade, do território em que ela se insere e dos grupos que fazem parte dela.
Girley explica que a base do projeto é o inventário proposto pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e será adaptado de acordo com a Comunidade Indígena Krenak. “Para mim, é uma honra poder pesquisar e publicar sobre o meu povo. Vamos fazer um levantamento cultural e artesanal para entendermos, por meio dele, como está a cultura Krenak, os seus rituais hoje e como era antes, depois de alguns exílios, do desastre ambiental também. Por meio desse inventário, com a participação do povo Krenak, vamos poder entender como está essa cultura. Portanto, o mestrado será um grande diferencial”, disse.
Além disso, Girley também acredita que o contato com profissionais e professores de diferentes áreas do conhecimento proporciona um amplo conhecimento, que faz toda a diferença em sua formação profissional e pessoal. “A interdisciplinaridade nos enriquece culturalmente e socialmente. E ela fez toda a diferença para que eu possa levar os conhecimentos acadêmicos e fazer um elo com o meu povo, com o conhecimento tradicional indígena. Com a minha formação eu posso ajudar o povo nas lutas e na resistência, falando de igual para igual com as lutas do dia a dia”, ressalta.
Graduada em Pedagogia no ano de 1998, Maria do Carmo Silva pertence à comunidade quilombola Ilha Funda, em Periquito (MG), e é orientada pela professora Fernanda de Paula. Seu projeto de pesquisa tem como tema central a importância da memória da identidade dos saberes tradicionais e o processo de luta pela demarcação do território quilombola, que está presente em todo o território nacional e é pontuada de vários desafios.
“É com muito prazer que represento a minha comunidade e os povos tradicionais no Mestrado GIT. No estado de Minas Gerais, por exemplo, temos apenas 18 comunidades tituladas e 365 comunidades reconhecidas pela Fundação Palmares, da qual a nossa comunidade também está nesse bojo. Pretendo aprofundar nos processos da luta pela demarcação do território, trazendo visibilidade para essa temática e para o contexto do povo e seus conhecimentos, principalmente percebendo que a nossa memória é silenciada”, explicou Maria do Carmo.
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