Neste bicentenário da Independência, perguntamos ao mestre em Comunicação Política e professor dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Univale, Manoel Assad, se as eleições periódicas já garantiriam uma democracia plena no país, ou se nosso sistema democrático ainda pode ser aperfeiçoado. Na avaliação do professor, a diversidade da sociedade brasileira não está devidamente representada nas instâncias de poder – em especial no Executivo e no Legislativo, em que os mandatários são eleitos pelo voto da população.
“Todo sistema democrático pode ser aperfeiçoado, nada é definitivo. A sociedade é dinâmica e está sendo transformada a cada dia, por componentes tecnológicos, sociais e culturais. E a democracia tem que acompanhar isso, e no processo vai se aperfeiçoando”, afirmou Manoel, sobre o sistema político neste bicentenário da Independência.
O professor lembra que na Ciência Política existem indicadores para medir a qualidade de democracias. Um desses indicadores é o Democracy Index, elaborado pela revista The Economist. No ranking mais recente, o Brasil ficou em 47º lugar de um total de 167 países. Para o ano do bicentenário da Independência, o país alcançou a média de 6,86, que rendeu a classificação de “democracia imperfeita”, com notas de 0 a 10 avaliando os seguintes critérios: processo eleitoral e pluralismo (9,58); funcionamento do governo (5,36); participação política (6,11); cultura política (5,63); e liberdades civis (7,65).
Manoel Assad lembra que, em uma democracia representativa como a brasileira, um número restrito de pessoas é eleito para representar um grande contingente populacional. “A ideia é que essa representação dê conta de cobrir toda a diversidade da nossa sociedade. E isso não acontece”, entende o professor.
Entre os fatores que dificultam essa representação, aponta Manoel, estão partidos políticos e candidaturas mais focadas em chapas eleitorais, por exemplo, colocando as figuras de candidatos acima das instituições. Com isso, o professor considera que a discussão de projetos e ideias para a sociedade passa a ter importância menor para muitos cidadãos.
“Nosso processo foi construído para que os partidos sejam essa instância representativa, e infelizmente, no Brasil, com poucas exceções, a maioria dos partidos não representa uma parte específica da sociedade. Às vezes representam interesses próprios e só servem para organizar as eleições e garantir melhores condições eleitorais, na hora de organizar as chapas e colocar as candidaturas nas ruas”, observou.
Como consequência, o mestre em Comunicação Política compreende que tem se aprofundado o distanciamento entre o ideal representativo e a prática da representação. “O que acontece, inclusive na nossa eleição este ano, são campanhas extremamente personalizadas, e não a disputa entre as ideias ou projetos para o país. As disputas ficam cada vez menos interessantes para a ideia de representação. É um contexto em que a democracia representativa vive uma crise, com representação que não acontece efetivamente e as pessoas perdem interesse e confiança nas instituições políticas”, declarou.
No dia 2 de outubro, mais de 156 milhões de eleitores estão aptos em todo o Brasil para irem às urnas e eleger o presidente da República, 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais, 1.035 deputados estaduais e 24 deputados distritais (no caso do Distrito Federal). Neste ano de bicentenário da independência, a Justiça Eleitoral recebeu mais de 29 mil pedidos de registro de candidatura – desses, quase 18 mil foram autorizados, cerca de 900 pedidos foram rejeitados e mais de 10 mil ainda aguardam julgamento.
Aluno do 4º de período de Jornalismo na Univale, Lucas do Vale tem 19 anos e votará pela primeira vez, mas ainda não decidiu em quem: “Eu me sinto extremamente perdido com relação aos cargos. Para ser bem sincero, eu acredito que sejam cargos demais na política”. Mesmo se considerando apreensivo em relação à eleição, ele avalia que votar é exercer um dever com a democracia, e busca se manter informado para decidir quais números digitará na urna eletrônica em 2 de outubro.
“Eu estou meio apreensivo, principalmente por conta do momento e cenário político polarizado que estamos vivendo. O futuro é muito incerto e na maior parte do tempo escutamos o que os outros têm a dizer sobre tal político. Não conseguimos formar uma opinião própria e isso é muito chato”, declarou.
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