Girley Batista Santana é engenheiro agrônomo e indígena do povo Krenak no município de Resplendor. Na segunda-feira (24) ele se tornou o primeiro mestre em Gestão Integrada do Território (GIT) de seu povo pela UNIVALE, ao concluir o programa de pós-graduação stricto sensu da instituição. Girley Krenak foi o primeiro beneficiado com uma bolsa de estudos destinada pela Fundação Percival Farquhar (FPF) à ação afirmativa de povos originários.
Sob orientação da professora Patrícia Falco Genovez e coorientação da professora Terezinha Vilarino, Girley produziu a pesquisa intitulada “Território, cultura, memória e ancestralidade: a resistência Krenak sob a perspectiva autoetnográfica”. A dissertação propõe uma importante reflexão autoetnográfica sobre o repertório cultural Krenak e suas práticas de resistência frente a processos históricos de opressão, desterritorialização e violência, trazendo ainda um olhar crítico e descolonial sobre o território, a memória e a ancestralidade, em um diálogo direto com a linha de pesquisa do GIT sobre “Território, Migração e Cultura”.

“Minha pesquisa é uma autoetnografia, minha vivência enquanto Krenak. Nós pesquisamos, eu e minha orientadora, a respeito da minha cultura. O que nós, Krenak, perdemos em nossa cultura, e como resgatamos nossa identidade cultural, o que estamos fazendo para nos manter fortes. Meu trabalho fala sobre o que nos fez perder nossa cultura, e na verdade nós não perdemos, mas foi tirada de nós. Também falamos das estratégias dentro da nossa comunidade, para fazer o resgate de nossos elementos culturais, simbólicos, materiais e espirituais”, explicou Girley.
O agora mestre em Gestão Integrada do Território espera que outras oportunidades sejam abertas a mais estudantes indígenas – além dele, a aluna Aianne Carolina Pego Silva, Maxakali no município de Coronel Murta, também é beneficiária de uma bolsa destinada a povos originários.
“Quando vim fazer o mestrado, eu tinha em mente o que queria estudar. Descobri aqui no GIT a oportunidade de poder falar da minha cultura, minha trajetória como Krenak. Fiz esse mestrado, que para mim é de grande relevância, principalmente quando abre esse leque de falar da nossa cultura no meio acadêmico, e também falar dos nossos sentimentos, do que nós vivemos e nós passamos. Foi muito importante chegar nesse período de defender meu trabalho para a banca, também por ser o pioneiro. É uma porta que se abre para outros alunos também virem e falarem de seus sentimentos e sua cultura, expondo sua identidade cultural”, salientou.

Um Krenak falando sobre a própria cultura
Orientadora de Girley Krenak no GIT, a professora Patrícia Falco Genovez considera o trabalho de seu aluno uma oportunidade singular para ela, como pesquisadora, e para a UNIVALE, ao possibilitar que um indígena da região seja pioneiro no estudo da própria cultura. “Do ponto de vista da minha trajetória acadêmica pessoal, considero um presente. É o tipo do estudo que faz o pesquisador refletir sobre o mundo à sua volta, a partir de um olhar diferente. É um convite e um desafio a sair dos muros acadêmicos e renovar esse conhecimento, com outros saberes, e a gente tem essa dádiva aqui”, avaliou a docente.
A pesquisa apresentada por Girley, observa Patrícia, aproxima o meio universitário de um outro saber, desafiando a Academia a conhecer novas metodologias e novas reflexões. “É uma oportunidade muito importante para a UNIVALE, para nós acadêmicos, e também para o Girley, como Krenak, falar de si, falar da própria cultura e se tornar um pesquisador da própria cultura e da própria história. Até hoje, o meio acadêmico falou dessa cultura. Foram acadêmicos, que não são Krekak, que se autorizaram a falar da cultura deles. Agora é diferente, um grande marco, com o primeiro do território Krenak em Resplendor a falar sobre sua cultura e sobre sua história. É uma honra para nós, também, estabelecer essa aproximação”, acrescentou.
Além das presenças da orientadora Patrícia Falco Genovez e da coorientadora Maria Terezinha Bretas Vilarino, a banca de defesa da dissertação de Girley contou com as professoras Eunice Sueli Nodari (da UFSC e professora convidada no GIT) e Nádia Maria Jorge Medeiros (UFVJM, de forma remota), com o professor Hernani Santana como membro suplente.
