Promovendo o diálogo interdisciplinar entre obras de ficção, estudos territoriais e fenômenos jurídicos, o 9º Seminário de Direito, Literatura e Território foi realizado no dia 10 (sexta-feira) com o tema “É o invisível que comanda o mundo”. Nesta edição, o Seminário se dedicou a analisar a manifestação da religiosidade no livro “Oração para desaparecer”, de Socorro Acioli. Com a participação principalmente de alunos do curso de Direito e do mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT) da UNIVALE, o debate, realizado de forma remota, também foi prestigiado por estudantes e docentes de outras instituições de ensino.
Em “Oração para desaparecer”, lendas indígenas do nordeste brasileiro são misturadas a tradições portuguesas quando Joana, uma mulher brasileira, acorda enterrada em Portugal, com vários cortes e ferimentos, usando um colar de búzios e sem se lembrar de seu nome ou sua história. A narrativa revela que Joana fugia de conflitos que envolviam a manifestação da religiosidade de povos originários, que cultuavam forças da natureza.

Corpo-território e religiosidade em “Oração para desaparecer”
A apresentação da obra e condução dos debates ficaram por conta da mestranda do GIT, Letícia Vasconcellos Moreira, graduada em Direito e bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). “Joana traz consigo, nesse movimento de desterritorialização, essa violência que a acompanhou. A narrativa é extensa e traz essa ideia de resistência mesmo”, destacou Letícia.
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Os debates sobre “Oração para desaparecer” consideraram o conceito de corpo-território, que entende o corpo humano como um elemento que, à sua própria maneira simbólica de ser em um espaço, se submete aos mesmos tipos de controle impostos a um território, como controles sociais ou jurídicos. Discussões sobre intolerância religiosa e o instituto jurídico da proteção da liberdade religiosa também estiveram presentes no Seminário de Direito, Literatura e Território.

“Pensando nessa intersecção de Direito, Literatura e Território, a gente vislumbra na Literatura o que se pode trazer em representação do mundo para narrativas jurídicas. Na narrativa da obra, a palavra corpo aparece 72 vezes. Foi o corpo que apareceu do outro lado do mundo, machucado, tonto, nu e fraco. Mas é o corpo também que carregava as religiosidades. A conclusão, que pode dialogar com esse instituto jurídico, é a proteção sobre o corpo, o direito ao corpo. Porque antes e a princípio, o corpo é a morada do sagrado. O sagrado se manifesta por e através do corpo. E foi esse mesmo corpo que carregou as religiosidades, mesmo sendo desterritorializado, mesmo não lembrando da sua história”, acrescentou a mestranda.
O Seminário é fruto da pesquisa “Direito, Literatura, Território e Reinvenções Simbólicas”, coordenada pelo professor Bernardo Nogueira e vinculada ao projeto estruturante “Territorialidades, Vulnerabilidades e Resiliências”, do Núcleo Interdisciplinar de Educação, Saúde e Direitos (Niesd), um dos laboratórios do GIT. A pesquisa tem apoio da UNIVALE, da Fundação Percival Farquhar (FPF, a mantenedora da universidade) e da Fapemig.
