O Colóquio Internacional de Direito e Literatura (Cidil) é considerado o maior e mais importante evento na América Latina dedicado à difusão de estudos que relacionam o campo jurídico à produção literária. Entre os dias 6 e 9 deste mês, o 13º Cidil foi realizado na Universidade de Uberaba (Uniube), e a UNIVALE foi representada com apresentação de trabalhos do professor Bernardo Nogueira, que leciona na graduação em Direito e no mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT), e também de alunos desses dois cursos.
Bernardo esteve entre os pesquisadores de diversos países da América Latina e da Europa participando do Cidil. O docente da UNIVALE esteve em uma mesa-redonda onde ministrou uma palestra sobre “O surrealismo jurídico de Warat e os sonhos dos Yanomami: desejos para adiar o fim do mundo” e coordenou um Grupo de Trabalho a respeito do Direito através da Literatura.
O professor explica que sua palestra tratou de uma outra forma de produzir conhecimento, observando a maneira como os Yanomami sonham, de maneira intimamente ligada a questões territoriais, uma vez que esses povos zelam pelas florestas.
“Na palestra a gente tratou desse diálogo entre o surrealismo jurídico e o pensamento decolonial nos sonhos dos Yanomami, apontando para uma perspectiva latino-americana do que se pensa surrealismo. E, nesse sentido, reafirmamos um necessário diálogo com autores e autoras brasileiras, que intensificam a construção de um pensamento filosófico, territorial e jurídico genuinamente brasileiro, e que observa as questões que emergem do território latino-americano. E que não necessariamente volta os olhos para buscar o saber na Europa ou nos Estados Unidos, como tradicionalmente o pensamento foi constituído”, afirmou Bernardo.
As pesquisas de alunos da UNIVALE levadas ao Cidil, ressalta Bernardo, trabalham a interdisciplinaridade entre Território, Direito e Literatura. Os mestrandos Letícia Vasconcellos e Brunno Barbosa aprofundaram estudos que já desenvolviam no GIT, sob orientação de Bernardo, e apresentaram seus trabalhos de forma remota. Do curso de Direito, os alunos Samuel Mascarenhas Barros Gusmão, Lucas Campos Ferreira e Lucas Andrade de Oliveira levaram estudos baseados na pesquisa “Direito, Literatura e reinvenções simbólicas do território – diálogos em tempos neoliberais”, realizada no Núcleo Interdisciplinar de Educação, Saúde e Direitos (Niesd), laboratório do GIT, com participação também dos docentes Fernanda Cristina de Paula, Diego Jeangregório e André Rodrigues (creditados ainda como coautores nos trabalhos levados ao Colóquio Internacional de Direito e Literatura).
“É importante dizer que essa já é uma inovação na própria pesquisa brasileira, uma vez que não existe, em verdade, um rol de pesquisas estabelecidas em face de Direito, Literatura e Território. Há Direito e Literatura como ramo estabelecido, mas a união de Direito e Literatura com os estudos territoriais é uma inovação que nós construímos em nosso projeto de pesquisa, que traz toda essa gama de estudos, com todas essas pessoas contribuindo para uma construção plural, democrática e interdisciplinar”, destacou Bernardo.
Um dos alunos de graduação integrantes da pesquisa, Lucas Andrade considera a pesquisa uma oportunidade única de interação e aprendizado multidisciplinar, e que a apresentação no Colóquio Internacional de Direito e Literatura proporcionou desenvolvimento acadêmico e profissional. “A iniciação científica não se limita a proporcionar experiências acadêmicas, também oferece oportunidades práticas interessantes. Participações em eventos dessa magnitude contribuem para o crescimento pessoal e o fortalecimento de habilidades profissionais essenciais, com publicação de artigos e textos que podem ser utilizados como títulos em concursos públicos, além de valorizar ainda mais nosso currículo”, avaliou o aluno.
Com formação em Direito e aluna do GIT, Letícia Vasconcellos Moreira passou a se interessar por estudos em Direito e Literatura durante o mestrado. De forma remota, ela apresentou no Cidil um trabalho sobre a percepção do samba de roda como um microterritório que expressa microterritorialidades de resistência.
“Nosso objetivo é captar e entender as dimensões ocultas das relações sociais, para revelar narrativas invisibilizadas e esquecidas pelo Direito contemporâneo, que se apoia em uma perspectiva de racionalidade neoliberal, como apontam os franceses Dardot e Laval. Acredito que ser selecionada para participar de um Colóquio tão relevante quanto o Cidil, que aborda estudos interdisciplinares em Direito, Literatura e Humanidades, é de grande importância tanto para o desenvolvimento do nosso currículo acadêmico, quanto para possibilitar conexões de pesquisa com outros pesquisadores e docentes de diferentes universidades”, frisou a mestranda.
Também aluno do mestrado, Brunno Barbosa participou com um projeto em que analisou travessias territoriais entre o real e o simbólico na obra “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa. “Foi enriquecedor, possibilitando o exercício da escutatória de projetos tão distintos, mas que se cruzam na mesma esquina em que se encontram os mestrandos: a busca por outros olhares sobre o projeto, a contribuição sem imposições daqueles que já percorreram uma longa estrada, a troca de ideias de forma democrática e acolhedora. Tudo isso acrescenta ao mestrado, pois o Colóquio Internacional de Direito e Literatura entrelaça disciplinas e assume a essência do que é o GIT: a interdisciplinaridade”, observou Brunno.
Receba notícias sobre: vestibular, editais, oportunidades de bolsa, programas de extensão, eventos, e outras novidades da instituição.
"*" indica campos obrigatórios