Entre os dias 28 e 31 de maio, a cidade colombiana de Barranquilla foi a sede do Simpósio Internacional Filosofia e Violência, organizado por diversas instituições de ensino latino-americanas para debater fenômenos violentos sob uma perspectiva filosófica. De forma remota, três professores da UNIVALE participaram como palestrantes logo no primeiro dia do Simpósio.
Docente no mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT), Bruno Capilé falou sobre narrativas de esperança no Vale do Rio Doce, em contraposição às narrativas catastróficas de desesperança após os impactos socioambientais provocados pelo despejo de rejeitos de mineração no Rio Doce, como consequência do rompimento da barragem das mineradoras Samarco, Vale e BHP, em Mariana. O pesquisador cita o projeto Vozes do Rio, que recebe financiamento de órgãos como CNPq e Fapemig, como exemplo de organização de um repertório de memórias dos ribeirinhos valadarenses sobre suas relações com o Rio Doce.
“Acreditamos que as falas catastróficas geram inanição social e apatia das pessoas frente aos problemas sociais e ambientais vivenciados juntos ao Rio Doce. Como diz Ailton Krenak, indígena ribeirinho e atingido, o argumento de que o mundo vai acabar é um argumento cretino. Pois assim ficamos parados e acostumados com a ideia de que não podemos fazer nada. Sendo assim, uma narrativa de esperança traz mobilização social, luta, sonho, trabalho”, observou Capilé.
O professor faz menção ainda aos Seminários Integrados do Rio Doce (SIRD), organizados pelo Observatório Interdisciplinar do Território (Obit), ligado ao mestrado da UNIVALE.
“É neste contexto que o Obit tem organizado os Seminários Integrados do Rio Doce, evento anual de luta, resistência e memória sobre o crime da Samarco e a importância do Rio Doce. Isto numa escala mais ampla, como a América Latina, mostra como o Brasil está inserido em um contexto internacional de abusos das mineradoras e dos estados, em nossa relação com a natureza. Trazer à tona a crítica a conceitos como ‘recurso natural’, nos faz pensar em que mundo queremos. Outros países participantes vivenciam situações muito similares de crimes socioambientais das mineradoras, como Colômbia e México”, acrescentou o pesquisador, ao detalhar sua palestra no Simpósio Filosofia e Violência.
Em outra palestra do Simpósio Filosofia e Violência, o professor Bernardo Nogueira, também do GIT, discutiu as relações entre neoliberalismo e as obras de Byung-Chul Han, autor sul-coreano radicado na Alemanha. Em suas reflexões, Bernardo entendeu o neoliberalismo como uma nova racionalidade, que captura a subjetividade dos indivíduos.
“Isso impede que nós criemos espaços de esperança. Os rituais hoje estão em declínio, exatamente por força dessa maneira de ser e de estar no mundo, que é o neoliberalismo, impedindo que nós criemos relações duradouras e impedindo que haja sentido nas relações humanas. E, portanto, lançando-nos a uma vida absolutamente esvaziada do outro, e individualizada, esgarçando o tecido social de maneira tal que as pessoas não respeitam a singularidade do outro, e criando uma comunidade, como ele próprio [Byung-Chul Han] vai dizer, que vive no ‘inferno do igual’. Isso traz uma série de consequências sociais, políticas, econômicas, jurídicas e inclusive de relação com a própria natureza. Uma vez que tudo agora é tornado como objeto de consumo. A gente perde uma dimensão de valor que nos une, uma dimensão de espaço comum no qual habitamos com o outro e vivemos de maneira individualizada, criando uma dificuldade inclusive democrática”, ponderou o docente.
Bernardo destacou que, para a UNIVALE, a presença de representantes da instituição consolida uma rede de pesquisadores em países latino-americanos que potencializa o intercâmbio de produção acadêmica.
“Isso fortalece a construção de um pensamento autêntico ligado com os problemas da América Latina, uma vez que estamos no mesmo continente. E, de alguma forma, pela nossa própria formação histórica, temos os mesmos problemas. Nesse sentido, há uma construção conjunta de possibilidades para a melhoria da vida democrática entre as pessoas desse continente. A participação em um evento desse pode trazer, para nossos alunos e nossas alunas, refrescos de ideias inovadoras, que acabamos partilhando e ouvindo dos outros palestrantes que estão lá. É muito importante a ideia da internacionalização como um dos pilares exigidos pela Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e pelo Ministério de Educação”, avaliou o docente.
Assim como na palestra de Bernardo Nogueira, o pensamento de Byung-Chul Han foi debatido durante a participação do professor Diego Jeangregório no Simpósio Filosofia e Violência. Diego, que é egresso do GIT e leciona no curso de Direito, analisou os diálogos entre a produção do sul-coreano e as obras do francês Michel Foulcaut.
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